
O fadista Carlos do Carmo completaria esta terça-feira 82 anos
Pedro Granadeiro / Global Imagens
Carminho, Jorge Palma, Agir ou Ricardo Ribeiro estão entre os músicos que vão cantar a partir das 21 horas, no Altice Arena.
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Os estúdios Namouche, no bairro das Laranjeiras, em Lisboa, foram, nos últimos dias, o ponto de encontro de alguns músicos portugueses consagrados que ensaiaram os fados de Carlos do Carmo que podem ser ouvidos esta noite no Altice Arena, na capital. O evento "Fado é Amor" junta na sala de espetáculos António Serrano, Agir, Camané, Carminho, Dino d"Santiago, Jorge Palma, Marco Rodrigues, Mariza, Pedro Abrunhosa, Ricardo Ribeiro e Tito Paris. Todos têm em comum a amizade e a admiração pelo artista que completaria esta terça-feira 82 anos e que desapareceu a 1 de janeiro passado.
Nos estúdios Namouche, os artistas ensaiam pela primeira vez e, para os repórteres presentes na sala, é difícil conter o aplauso no fim de cada atuação. Os técnicos acenam com a cabeça, em sinal de aprovação, esboçam-se pequenos sorrisos, mas é o máximo que, ali, os artistas vão ter - esta noite espera-se uma ovação no Altice Arena.
Cada artista partilha uma história singular com o fadista. Agir, um dos mais novos em palco, lembra os "jantares em casa dos pais", Helena Isabel e Paulo de Carvalho, e a educação de Carlos do Carmo à mesa. "Há aqui uma responsabilidade enorme, tanto pelo estilo musical, que não é obviamente o meu, como por todo o simbolismo que tem como artista e amigo da minha família há muito tempo. Era a única pessoa que me fazia tirar o chapéu à mesa!", lembra o intérprete. "Não sendo batizado, assumiu-se como meu padrinho desde o dia em que nasci, inscreveu-me no Belenenses, de que era adepto ferrenho. Há aqui algo muito simbólico para mim e fico muito contente que me tenham convidado".
Canções devidas
Carminho era uma das artistas mais próximas de Carlos do Carmo. "Estamos muito felizes por nos encontrarmos todos. Ele juntou sempre muita gente e é por isso que este concerto tem tantos artistas, com intenções sinceras", afirma. "Sempre me convidou para fazer parte de coisas que ele estava a fazer, são atitudes generosas, de artistas grandes, que percebem a beleza do encontro, da parceria, e de haver diferentes cores a aparecer. Ele era muito jovem e dizia que era colega dos mais novos. Homenageio o artista e o meu amigo Carlos, com quem tive conversas tão bonitas".
Carminho prepara-se para interpretar temas desafiantes. ""A gaivota", cantada tanto pelo Carlos como pela Amália, é um tema muito interpretado. São temas mais desafiantes porque estão na cabeça das pessoas. São músicas de uma beleza infinita e por isso aproveito estes momentos para poder cantá-los, porque não são temas que procure no meu reportório", remata a artista.
Jorge Palma defende que "além da generosidade e talento, Carlos do Carmo foi uma pessoa muito interventiva". "Ele não cantava só fado, interpretava desde Jacques Brel a Sinatra. Era maravilhoso e, como pessoa, divertimo-nos muito ao longo destes anos todos".
Na interpretação da música do fadista, Jorge Palma assume que "há um acréscimo de emoção e sensibilidade". "Conheci o homem, privei com ele, tínhamos telefonemas muito engraçados e o último foi mesmo uma semana antes dele partir".
Carlos do Carmo tinha pedido ao amigo para escrever uma canção. "Acabei por escrevê-la. A ideia amadureceu na minha cabeça. Quando peguei na caneta e na guitarra a coisa fluiu naturalmente. Fiquei muito contente por ele ter gostado muito da música que escrevi para ele, "Canção de vida", que é também uma canção devida", garante Jorge Palma.
Homenagem
"Vamos assinalar primeiro ano da morte e celebrar a vida"
Becas do Carmo, filho do fadista, coordenou os ensaios nos estúdios Namouche e é o grande impulsionador desta homenagem a Carlos do Carmo. "Isto nasceu numa vontade de celebrar e fazer qualquer coisa no dia 21 de dezembro, que é o dia de anos dele. Vai assinalar-se o primeiro ano da sua morte e vamos celebrar a vida", afirma o músico, que elogia os artistas "que saíram da sua área de conforto, mas que estão a fazê-lo com muita amizade e vontade". Em tempo de pandemia, foram muitas as dificuldades para organizar o espetáculo. "É muito difícil fazer com que isto aconteça, desde a logística, ao cumprimento do que é necessário, foi mesmo muito difícil", conclui Becas do Carmo.
