Autor espanhol assina novo registo policial com um traço dinâmico e muito sensual no livro de BD "Sou o seu silêncio".
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A editora Arte de Autor deu a conhecer Jordi Lafebre aos leitores portugueses como desenhador da ternurenta e bem-disposta série familiar "Verões felizes" e, depois, como autor completo, na comédia romântica "Apesar de tudo", que só podia ser narrada em BD, dada uma brilhante característica da sua conceção.
Agora, Lafebre regressa de novo a solo em "Sou o seu silêncio", num registo policial ambientado em Barcelona, com uma protagonista feminina, Eva, uma psicóloga algo excêntrica com traços de bipolaridade que, como tantas vezes neste género, dá por si inesperadamente envolvida numa investigação de homicídio.
Tudo começa quando Eva é convidada por uma amiga e ex-paciente para a acompanhar a uma reunião para leitura de um testamento, no seio da família Monturós, com muitas posses e socialmente relevante, como produtora do espumante que leva o seu nome.
A atravessar uma fase difícil e sujeita a avaliação psicológica para ser decidido se pode continuar ou não exercer a sua profissão, devido às vozes que "ouve na sua cabeça", embora reticente, Eva acaba por aceitar.
Inevitavelmente, acontece um homicídio, o que provoca a entrada em cena de uma detetive bastante discreta para investigar o crime e todos os que aspiram à herança são, por isso, potenciais suspeitos.
Atravessando-se uma e outra vez no caminho da detetive, Eva, com as suas mudanças de humor, a constatação das decisões pouco sensatas que frequentemente tomou e os fantasmas interiores com que se debate, leva à introdução de notas dissonantes de humor ou suspense numa intriga bem urdida.
Lafebre vai expondo cada um dos membros da família Monteiro, bem como uma teia de interesses pouco claros, negócios mais ou menos esconsos e os ardis que levam a cabo para se posicionarem face ao pecúlio em jogo.
O relato, em que a vida particular da protagonista se mistura com a investigação, é servido pelo traço dinâmico, elegante, sensual e apelativo a que o autor nos habituou, com o qual dá vida a este teatro de costumes. Arrastando-nos em loucas correrias ou mergulhando-nos nos momentos depressivos que Eva vai vivendo, a trama é urdida ao mesmo tempo que a investigação vai avançando de forma inesperada e surpreendente.