Este fim de semana, dias 24 e 25 de maio, Santa Maria da Feira volta a ser o epicentro da criação artística em espaço público com mais uma edição do Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua.
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O programa é vasto, mas há espetáculos que se destacam não apenas pela sua originalidade, mas também pela forma como interpelam o público e transformam a cidade num imenso palco de emoções, provocação, crítica social e poesia. Uma padaria para corações partidos, um jogo de futebol com bailarinos ou uma engomadoria de personalidades ou dinheiro de graça tudo é possível.
Entre as propostas imperdíveis está “Broken Heart’s Bakery”, uma performance participativa das artistas húngaras Fanny Hadjú e Boróka Kováks. Num cenário insólito — uma padaria — os corações partidos encontram um lugar seguro onde o sofrimento amoroso se transforma num ritual coletivo de partilha. Esta espécie de terapia performativa propõe consumir simbolicamente aquilo que já não se quer guardar. Em sessões curtas mas intensas, a dor é matéria-prima e o lamento, um ingrediente essencial para a cura. O encontro está marcado para sábado, às 15 horas e às 18 horas, na Casa do Moinho.
Logo depois, às 18. 30 horas, a rua transforma-se em arena política com “Money for Free – Acts of Liberation”, do espanhol Sergi Estebanell. Com a personagem provocadora de John Fisherman e os porta-vozes do movimento #MoneyForFree, a performance convida o público a refletir sobre o culto do dinheiro e os paradoxos do capitalismo. É um momento de confronto direto com o absurdo de uma sociedade onde tudo tem um preço, mas em que, por uma hora, se oferece dinheiro sem contrapartidas. A intervenção instala-se na Rua Jornal Correio da Feira, junto ao edifício da Caixa Geral de Depósitos, num gesto tão simbólico quanto eficaz.
A dança também entra em cena de forma inusitada com “Balle aux Pieds”, da companhia marfinense Lesg’arts, que atua sexta e sábado, às 19 horas, no Museu Convento dos Lóios. Aqui, a arte do movimento cruza-se com o futebol, numa simbiose improvável entre as artes performativas e o desporto-rei. Os intérpretes trocam a bola com a mesma fluidez com que se lançam em coreografias que celebram a união dos corpos e a potência do gesto. É uma experiência visual e sensorial que desafia convenções e redefine fronteiras.
Para quem prefere uma abordagem mais teatral e com um toque de humor ácido, “Anti-Nódoas”, da portuguesa Companhia Mnemos, é uma paragem obrigatória. Em cena no Arquivo Municipal, no sábado às 21.30 horas, o espetáculo transforma a engomadaria num símbolo de resistência feminina. Comédia e crítica social dão as mãos num enredo que revela as nódoas invisíveis da história das mulheres, usando o vapor e o ferro de engomar como armas metafóricas de emancipação. É uma celebração da força feminina onde cada gargalhada carrega o peso de uma luta.
No domingo, a despedida faz-se em tom de festa com “The Herock”, do espanhol Mr. Copini. A performance, que já pode ser vista sexta e sábado às 18.30 horas no Rossio, acontece também no domingo ao meio-dia na Praça Dr. Gaspar Moreira. Montado numa pequena mota, este herói do circo contemporâneo mistura rock, máscaras e acrobacias num espetáculo onde o improviso é rei. Com uma energia contagiante, envolve o público numa explosão de criatividade, tornando cada atuação única e imprevisível.
Em suma, o fim de semana promete ser uma verdadeira viagem emocional e sensorial, com propostas que atravessam géneros e idades, mantendo sempre o foco numa arte acessível, inclusiva e desafiadora. O Imaginarius volta a provar que a cultura tem o poder de nos transformar, e que o espaço público, quando ocupado com intenção e beleza, é o melhor palco de todos.