Alexandre Estrela desenhou uma exposição a pensar no museu de arte contemporânea de Guimarães. Já Mariana Caló e Francisco Queimadela criaram um filme em torno de uma obra marcante da pintura portuguesa
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Até 21 de setembro, é possível ver, no Centro Internacional de Artes José de Guimarães, a segunda parte do tríptico de Alexandre Estrela - “Intervalo” - que começou na Culturgest com "A Natureza Aborrece o Monstro" (2024). Paralelamente, apresenta-se o filme interpretativo da pintura “Inferno”, realizado pela dupla de artistas Mariana Caló e Francisco Queimadela a convite do museu vimaranense.
O trabalho de Alexandre Estrela explora a possibilidade da exposição como um meio em si mesmo. As salas do museu foram transformadas para fazerem parte de uma experiência em que o visitante é conduzido através de um espaço vivo e em mutação. O conjunto de trabalhos reunidos tem no desenho e na pintura as fundações estruturais, mas é o som que surge de rompante, de forma inesperada, e que deixa uma marca mais profunda no visitante. Têm qualquer coisa de primordial sem ser natural, como se fosse parte dos fenómenos físicos que forjaram o universo, antes mesmo de haver vida.
“Inferno” (1510-20) é uma pintura a óleo sobre madeira da autoria de um mestre português desconhecido. O quadro representa uma imagem medieval do Inferno, expondo os eternos castigos aplicados a quem comete os sete pecados capitais: orgulho, avareza, luxúria, inveja, gula, ira e preguiça. A convite do CIAJG, Mariana Caló e Francisco Queimadela filmaram esta pintura pertencente ao acervo permanente do Museu Nacional de Arte Antiga.
O resultado é um trabalho interpretativo que joga com perspectivas gerais e “close ups” para realçar detalhes que de outra forma passariam despercebidos. Este olhar é tanto mais interessante quanto se sabe que o quadro esteve escondido do público até 1940, em parte por razões de conservação, mas também pela sua natureza “demoníaca”.