"This is not a dance” é a proposta de Nastaran Razawi Khorasani para honrar todos os coreógrafos iranianos que foram impedidos de o ser há 45 anos.
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Nastaran Razawi Khorasani é uma artista iraniana nascida em Teerão. As suas memórias da infância envolvem o mar Cáspio, talvez por isso mesmo chorou quando viu o Oceano Atlântico, na sua chegada ao Porto onde vai apresentar esta sexta-feira e sábado “This is not a dance”, no Teatro do Campo Alegre (19.30 horas).
Cresceu nos Países Baixos e diz à cabeça que odeia que lhe perguntem onde é a sua casa, mas insiste em responder à não pergunta. “A casa não tem de ser um sítio quentinho e confortável que nos enche o coração. Eu não sou de lado nenhum, até porque uma casa pode ser apenas uma ideia. Uma má ideia”, conta ao JN.
No Irão, a dança é oficialmente proibida desde o início da Revolução Islâmica, em 1979. Todas as companhias de dança foram obrigadas a cessar as suas atividades. Nastaran Razawi Khorasani & Theater Rotterdam montou uma produção assente em duas perguntas: “Como posso fazer uma peça de dança sem me mexer e como trabalham os coreógrafos iranianos na diáspora”. Apesar de pensar que “encontrar respostas é a coisa mais triste do Mundo, porque significa um fim”. Por isso mesmo, prefere “encontrar caminhos sem contar a história toda, apenas deixar caminho para explicar que a dança é demasiado forte e nada a pode deter”, diz.
Para isso incorpora, em cena, todos “aqueles iranianos que queriam dançar e não puderam sobretudo dentro dos vocabulários de clássico e contemporâneo”.
Porque, como desmistifica, no Irão, “o folclore vai sendo permitido, quando está associado a um lado religioso. Mas, até “essa definição é uma área cinzenta e depende de quem tem o poder e como o vai avaliar”, diz. “Quem ainda lá vive tem de ser muito engenhoso”, comenta.
Quando lhe perguntámos se gostaria de apresentar o espetáculo em Teerão, não se mostra confiante. “O que eu faço é a visão de alguém que está fora sobre o que lá se passa, talvez no Irão isto seja antiquado”, reflete.
Mas quanto a Portugal está muito curiosa “aqui as pessoas viveram uma ditadura e emigraram portanto podem existir muitos pontos de contacto emocionais com o meu espetáculo”, diz ao JN. Resultados a conferir esta sexta e sábado.