Isabel Furtado: “Queremos levar a Casa da Música para fora de casa, torná-la mais inclusiva”

Isabel Furtado vai liderar a administração da Casa da Música durante três anos
Foto: José Coelho/Lusa
Primeira mulher a presidir à Casa da Música, no Porto, em 20 anos revela ao JN os seus planos para inovar: “É precisar pensar um pouco fora da caixa.”
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A Casa da Música precisa de brilhar mais, de atrair novos mecenas, de inovar, de ser mais eficiente. Isabel Furtado, presidente do Conselho de Administração para três anos, fala ao JN de desígnios – e de artistas favoritos.
Quem é a Isabel Furtado?
Sou a primeira mulher à frente da Casa da Música como presidente. Já fui a primeira à frente da Cotec. Venho de uma empresa familiar tradicional [TMG Automotive] que apostou muito na área tecnológica dos têxteis. Os meus pilares de gestão são a inovação e a sustentabilidade.
É o seu desígnio para a Casa da Música?
Esta Casa é um desafio novo. Cabe-me gerir com eficiência e deixar a parte artística para o diretor artístico e de educação, François Bou. O meu desígnio é assegurar a sustentabilidade e o futuro da Casa, que faz agora 20 anos, por outros quantos mais. E inovar.
Já tem projetos novos?
Temos o desejo de implementar uma Academia de Orquestra aberta a jovens músicos que aqui venham estagiar, tocar, aprender mais sobre a profissão, com intercâmbios mais alargados. E queremos levar a música para fora deste belíssimo edifício, mas que está muito contido aqui dentro. Queremos levar a Casa para fora da casa, torná-la mais inclusiva. É um desígnio estratégico. E depois, como é óbvio, garantir a sua sustentabilidade.
A Casa tem 20 anos. Há problemas a resolver?
Não são problemas, são desafios. É preciso renovação. Por exemplo, as cadeiras na Sala Suggia têm 20 anos de intensa atividade, a parte acústica, a parte de conforto dos músicos também será revista. Toda a eficiência energética da Casa tem de ser reavaliada, repensada. Fizemos um levantamento do que precisa de ser feito, temos um plano calendarizado e orçamentado, mas é preciso mais fundos.
A solução é poupar ou captar mais dinheiro?
Precisamos de fundraising, de angariar mais fundos, atrair novos mecenas, novos fundadores. A sociedade precisa de uma Casa da Música. Não só a comunidade do Porto, é todo o Norte, todo o país precisa desta Casa. E precisamos de criar maior notoriedade para fora. É precisar de pensar um pouco fora da caixa, fora deste diamante que é tão icónico que tem de ser completamente conhecido em toda a parte.
O diamante precisa de ser polido?
Sim, os diamantes podem ser lapidados, podem ser ainda mais brilhantes. A Casa da Música, acho que a palavra correta é essa, precisa de mais brilho. Esta é a casa de todas as músicas. Reforço muito isto: levar a Casa para fora da casa.
O ex-diretor artístico esteve aqui 15 anos. O que espera de François Bou?
Trabalhei muito pouco tempo com o António Jorge Pacheco, que fez um trabalho quase inigualável. A Casa deve-lhe muito. O François terá agora um desafio novo. Vai fazer coisas diferentes. Ele tem o desígnio da transversalidade da música, que é extremamente importante. E tem outra coisa que menciona muito: o equilíbrio entre arte e entretenimento.
Recorda-se onde estava em 15 de abril de 2005?
Estava aqui. Vim à inauguração da Casa. A empresa da minha família é fundadora desde o primeiro dia.
E a primeira impressão?
Senti um impacto brutal a nível arquitetónico. Lembro-me da Sala Suggia, fabulosa, de ficar deslumbrada com a luminosidade, com certas salas. Mas o impacto maior foi a grandiosidade deste diamante.
A música é muito importante na sua vida?
A música é muito importante para o nosso equilíbrio interno. Tira-nos de onde estamos, leva-nos para um nível superior, enriquece-nos a alma.
Ia a concertos quando estudou em Inglaterra?
Fui para Inglaterra no final dos anos 70, início de 80. Tive o privilégio de ir a muitos concertos: Queen, Supertramp. Eric Clapton, Simon & Garfunkel, alguns mais irreverentes como Ian Dury, ou os musicais Jesus Christ Superstar em concert halls de Londres. Foi excelente.
Tem artistas favoritos?
Freddie Mercury, dos Queen. Aquela sonoridade, aquela irreverência, aquela originalidade. “Bohemian rhapsody” talvez seja a música mais impactante na minha juventude. E continua a ser. Outros? Supertramp, Elton John, Whitney Houston, aquela voz arrepia a alma. E a Amy Winehouse. A “Rehab” é poderosíssima, é uma música de grande sofrimento interior, é quase um grito de ajuda, um grito de desespero, mas um grito de imensa beleza musical. Ela tinha um vozeirão.
