Depois de ter renunciado ao cargo de Presidente do Conselho de Administração esta terça-feira, Isabel Pires de Lima acusou, em entrevista ao "Público", Ana Pinho de querer "vassalagem".
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Na entrevista concedida esta quinta-feira ao jornal "Público", Isabel Pires de Lima explica as razões da sua renúncia à presidência da Fundação de Serralves, cargo que assumira há oito meses. A ex-ministra da Cultura denuncia "pressões externas a nível institucional" e uma interferência constante de Ana Pinho, anterior presidente da Fundação e atual líder do conselho de fundadores: "A Dra. Ana Pinho tem uma prática de exercício de poder bastante centralizadora. Mas acreditei que ela ia ser presidente do conselho de fundadores e que, portanto, me daria uma transição normal."
Pires de Lima afirma ter sentido falta de autonomia: "Sinto que os aportes que alguns membros trazem são previamente combinados fora do conselho e, portanto, sujeitos a pressões externas." Identifica essas pressões como vindas sobretudo do conselho de fundadores, sublinhando que esse quadro foi minando a gestão corrente: "Perdíamos muito tempo a tratar de minudências processuais, em vez de nos centrarmos nas questões estratégicas."
Um dos episódios relatados ilustra o ambiente de desautorização: "Fizemos um evento de início de Verão para os colaboradores. A Dra. Ana Pinho ter-se-á sentido muito ofendida pelo facto de não ter sido convidada para esse sunset. Isto é uma coisa muito pequenina, mas diz bastante do seu nível de interferência." Para Pires de Lima, esta ingerência indireta acabou por comprometer relações internas.
A nomeação de um novo diretor-geral foi outro ponto de fricção. Segundo a ex-presidente, uma candidata teve uma conversa com Ana Pinho antes mesmo de dialogar com ela: "Isso levou-me à leitura óbvia de que a Dra. Ana Pinho estava implicada no processo desde o início." Apesar disso, optou pelo silêncio: "Na minha cabeça, eu estava a ver o fim do filme. (...) Ia ser um diretor-geral que dirigia tudo, com a palavra da presidente a desaparecer praticamente de cena. E eu já não tenho idade para fazer o papel de representação."
Questionada sobre a perceção de que Serralves funciona "quase exclusivamente como uma empresa", Isabel Pires de Lima rejeita a ideia: "Felizmente, não é uma empresa, e seria grave se funcionasse como uma. Por isso mesmo, não me agradam conselhos de administração quase exclusivamente constituídos por gestores."
A propósito da escolha de administradores pelo Governo, também vindos do setor privado [Paula Paz Ferreira e Luís Meneses], defende maior diversidade: "Sim. À cultura, à ciência, ao pensamento. Aliás, uma das áreas em que Serralves precisa de investir urgentemente é no pensamento crítico. (...) Os museus têm, por natureza, uma função educativa muitíssimo importante."

