Já venceu por duas vezes o prémio de interpretação feminina em Cannes, por “Violette Nozière”, de Chalude Chabril, em 1978, muito em início de carreira, e em 2001, por “A Pianista”, de Michael Haneke, já em plena consagração.
Corpo do artigo
Foi também nomeada para um Óscar, ainda mais recentemente, pelo seu trabalho em “Ela”, de Paul Verhoeven. Chama-se Isabelle Huppert e é agora “A Mulher Mais Rica do Mundo”, exibido fora de competição no festival francês.
O filme de Thierry Klifa, sexta longa-metragem do realizador francês, que confessou ao JN que provavelmente não faria o filme se Isabelle Huppert não aceitasse fazê-lo ou não estivesse disponível na altura, baseia-se num caso verídico. Trata-se da figura real de Françoise Bettencourt-Meyers, que ao herdar a fortuna do gigante grupo económico da L’Óreal, se tornou efetivamente a mulher mais rica do mundo, vendo-se depois envolvida num escândalo que chegaria a envolver a presidência francesa da sua época.
O filme ficciona a vida desta mulher, cuja existência vai ser desde logo virada do avesso pela chegada de um fotógrafo que se vai tornar amigo e confidente. Isabelle Huppert dá vida a esta mulher, em mais um fantástico retrato de uma atriz que leva sempre os filmes que interpreta para uma outra dimensão.
Cannes, e tudo o que se passa em cada uma das 24 horas dos seus doze dias infernais ou paradisíacos, conforme as sensações de cada momento, vive muito para lá das duas dezenas de filmes que concorrem à Palma de Ouro. Foi o caso também da notável animação de Sylvain Chomet, “Marcel et Monsieur Pagnol”. O realizador francês que com os seus filmes anteriores, como “O Mágico” ou “Belleville Rendez-Vous”, já foi nomeado quatro vezes para os Óscares, faz aqui uma magnífica homenagem não só a um dos maiores nomes da cultura francesa do século XX, Marcel Pagnol, como também a toda uma era do cinema francês.
Alívio durante duas horas do tema recorrente de Cannes 2025, a morte, a comédia “Splitsville” leva-nos para o delírio de relações amorosas e sexuais livres entre dois casais de amigos. O filme, que como a animação de Chomet já tem distribuição garantida em Portugal, é fruto de mais um trabalho conjunto de Michael Angelo Covino, que realizou e escreveu o guião com Kyle Marvin. Os dois são ainda os atores principais, ao lado de Dakota Johnson e Adria Srjona, e protagonizam uma espetacular sequência de luta corpo a corpo entre amigos, quando um deles descobre que afinal foi com o outro que a sua mulher teve uma relação livre fora do seu casamento.
Muito diferente é “The President’s Cake”, exibido na Quinzena de Cineastas e alvo de uma gigantesca ovação. Realizado pelo iraquiano Hasan Hadi, e ambientado no Iraque dos anos de 1990, ainda sob o regime de Saddam Hussein, mostra que é possível falar de política passando pelo humano e sem esquecer que o cinema é uma forma de expressão criativa. O filme acompanha uma menina de nove anos que percorre Bagdad em busca de ingredientes para fabricar o bolo de aniversário do presidente iraquiano. Um filme que se espera poder ver também nas salas portuguesas.