Atriz francesa volta a filmar com dois realizadores de peso: Hong Sang-soo e André Téchiné.
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Uma das atrizes mais prolíferas e respeitadas do cinema das últimas cinco décadas, a veterana francesa Isabelle Huppert passou esta segunda-feira por Berlim, apesar de estar a três dias de entrar em palco com a sua nova peça. Sempre disponível para defender os muitos projetos que abarca, Huppert deslocou-se à Berlinale para apresentar dois dos seus últimos trabalhos, “A traveller’s needs”, do coreano Hong Sang-soo, em competição pelo Urso de Ouro, e “Les gens d’â côté”, de André Téchiné, que não veio a Berlim, onde o seu último trabalho foi selecionado para a secção Panorama.
Habituada a filmar em vários pontos do mundo, como Sintra, quando foi dirigida pelo norte-americano Ira Sachs em “Frankie”, Isabelle Huppert tem apesar de tudo uma relação muito especial com o coreano Hong Sang-soo, com quem já filmou em três ocasiões. Depois de “Noutro país” e “A câmara de Claire”, Huppert interpreta em “A traveller’s needs” a personagem de Iris, uma francesa que descobrimos num parque, vai ganhando a vida como tradutora e se vê a partilhar um apartamento com um homem bem mais jovem, cuja mãe discute o motivo da sua presença ali quando aparece sem prevenir em casa do filho.
Com o seu estilo sempre minimalista, como que apanhando as personagens num momento qualquer das suas vidas, o coreano, conhecido pela sua incrível capacidade de produção, apresentando dois a três filmes por ano, consegue desta vez original um consenso mesmo entre os que normalmente veem o seu cinema com alguma indiferença.
E não é só Huppert que dá uma vida particular a este filme. Os seus diálogos e situações, sobretudo os que se concentram entre mãe e filha, foram um momento de graça e universalidade que não deixaram a Berlinale indiferente.
Huppert também já filmara com André Téchiné. Mas apenas uma vez e já há 45 anos! Nessa altura, em “As irmãs Bronté”, Huppert interpretou Anne, ao lado de Isabelle Adjani e Marie-France Pisier. Agora, em “Les gens d’à côté”, um drama contemporâneo, a atriz é Lucie, uma agente da polícia ainda fora do ativo depois do suicídio do seu companheiro, também agente. Para a casa ao lado, muda-se um casal com uma filha pequena. Mas o pai está em prisão domiciliária, por violentos protestos contra a polícia. Uma situação inesperada vai colocar Lucie entre o fascínio por este homem e as suas obrigações morais e profissionais.
Nunca fugindo a temas controversos, Téchiné começa o seu filme com uma manifestação de polícias pelos seus direitos. Numa altura em que é mais politicamente correto mostrar a instituição policial pelo seu lado maio violento e repressivo, Téchiné confronta-nos com a humanidade destes homens e destas mulheres.
Huppert está como sempre magnífica, notando-se o trabalho na fisicalidade e mesmo no andar, para se tornar credível como agente da polícia, enquanto Nahuel Pérez Biscayart, prometedor ator argentino já com vários filmes feitos em França, aqui artista e ativista, consciente de ter por vezes ultrapassado a linha, mostra-nos que, na vida, nada é apenas preto ou branco.