Realizadora de “O piano” é alvo de retrospetiva integral no Batalha Centro de Cinema, no Porto. Começa esta sexta-feira e prossegue até 15 de junho. Curtas-metragens são inéditas.
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Se os seus filmes estão repletos de mulheres determinadas, dispostas a desafiar limites e amarras, também Jane Campion (n. 1954), na sua carreira, é um exemplo de poder feminino: primeira mulher a vencer a Palma de Ouro do Festival de Cannes com “O piano” (1993); primeira a receber duas nomeações para Oscar de melhor realização (venceria à segunda, com “O poder do cão”, de 2021); e primeira a juntar os Oscars de melhor realização e argumento original.
“Jane Campion, sem cedências” traz a totalidade da obra da cineasta neozelandesa ao Batalha Centro de Cinema, no Porto, entre esta sexta-feira e 15 de junho.
A retrospetiva irá complementar, com o outro ciclo em exibição no Batalha, “Se o cinema é uma arma”, o programa de celebração dos 50 anos do 25 de Abril: “Os filmes da Jane Campion trazem equilíbrio ao cartaz”, diz Lídia Queirós, uma das programadoras. “Se o outro ciclo é vincadamente político, este é mais subliminar; não é um cinema militante, apesar dos temas feministas serem recorrentes”.
Mulheres em busca de liberdade
A condição da mulher, assim como a diversidade da obra, são mesmo os pontos mais salientes na arte de Jane Campion, diz a programadora: “As protagonistas são quase sempre mulheres que se evadem da sua situação e que anseiam pela liberdade. E os registos são muito diferentes, sobretudo após “O piano” há uma explosão formal, com thriller, drama histórico, neowestern ou filmes sobre temas contemporâneos. É um cinema sem concessões, que mostra a complexidade do real e que nem sempre é confortável para o espectador".
Dividida em duas partes, a retrospetiva arranca com um conjunto de curtas realizadas na Austrália, enquanto estudante de cinema, nos anos 1980, destacando-se “An exercise in discipline: peel”, que lhe valeu a Palma de Ouro para melhor curta em 1986.
Até ao final de abril será projetado “Two friends”, telefilme de 1986 que conta o apogeu e queda de uma amizade entre duas adolescentes australianas. E para abrir o ciclo, já esta noite, exibe-se “Sweetie” (1989), primeira longa-metragem da realizadora, comédia excêntrica sobre o relacionamento de duas irmãs.
"O piano" passa em maio
A segunda parte do programa, que se inicia em maio, inclui todas as longas de Jane Campion: da mais célebre de todas, “O piano”, drama histórico com Harvey Keitel, Holly Hunter e Anna Paquin, à última, “O poder do cão”, western psicológico protagonizado por Benedict Cumberbatch e Kirsten Dunst.
Pelo meio, passarão obras tão diversas como “Holy smoke!” (1999), “In the cut” (2003) ou “The portrait of a lady” (1996), que adapta o romance homónimo de Henry James e conta nos principais papéis com Nicole Kidman e John Malkovich.