Arquivo Vivo do Teatro Experimental do Porto tem patente exposição no Museu do Porto, até ao dia 27 de março.
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“Este é o meu arquivo, tomai e comei”: foi com esta “frase crística” que Jorge Sobrado, diretor do Museu do Porto, deu as boas-vindas ao Arquivo do Teatro Experimental do Porto (TEP), cuja exposição inaugurou ontem no Palacete dos Viscondes de Balsemão, no Porto, onde permanecerá até 27 de março, Dia Mundial do Teatro. Sobrado sublinhou a pertinência da exposição: “Um museu é algo entre um arquivo que serve para guardar e o teatro que serve para mostrar”.
Gonçalo Amorim, diretor artístico do TEP, elogiou “a tríade de dragões amadores que guardaram e construíram o arquivo: Joaquim Portugal, Júlio Gago e Vidal Valente”. Por seu lado, Filomena Louro, presidente do TEP, destacou que um “amador é alguém que ama”, antes de encetar a visita guiada à mostra dividida cronologicamente.
Entre os vários tesouros que se podem encontrar expostos, estão um baixo relevo de Augusto Gomes criado para a obra “Antígona”, em 1953, ou o desenho de figurino que idealizou para “Lady Macbeth”, em 1956.
António Pedro, figura seminal do TEP, tem também todos os seus livros expostos e, como explicou Filomena Louro sobre “O pequeno tratado de encenação”, “ele foi o pai do teatro moderno português, é nestes cadernos que percebemos que o encenador não era só um mero ensaiador”.
Dos anos 50 até hoje
Os anos 60 e 70 pré-ditadura são também dos mais frutíferos e entre eles está um cartaz de “A casa de Bernarda Alba”, de Federico García Lorca, em que Adela surge representada com o sagrado coração na zona púbica. A seu lado está o auto de detenção que versa que “Fernando Gaspar, de 54 anos, casado e agente comercial”, foi responsabilizado por este cartaz censurado.
No pós-ditadura está patente o figurino que Júlio Cardoso usou para representar o “poder patriarcal” de Bernarda Alba e a cenografia do escultor José Rodrigues para “Yerma”, também de García Lorca.
Nos anos 80 há vários registos fotográficos de Mário Viegas. A década de 90 está ilustrada numa panóplia de cartazes – prova da efervescência teatral do Porto da época – e também no incêndio e saída do TEP para Gaia. Nos anos 2000, destaca-se a Capital da Cultura e nos anos recentes a era de Gonçalo Amorim, com vários adereços e figurinos que se podem percorrer.