Jão estreia-se no Rock In Rio Lisboa: “Vai ser a melhor noite das nossas vidas”
Uma estrela gigante iluminada ao centro do palco e um estúdio de rádio montado. É Jão que aí vem. A “Super FM, 88,8” está no ar com temas do mais recente álbum do ícone do pop brasileiro. Desta vez no Parque Tejo. Minutos antes, num palco secundário, cantava-se em espanhol. Iñigo Quintero foi outra das estreias.
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O “garoto”, de 29 anos, que tem ganho terreno no panorama do pop, êxito atrás de êxito, veio pôr o Palco Mundo a aquecer para esta grande noite. Com o cabelo platinado, um colete e calças de lantejoulas surge no palco. “Lisboa!”, grita, entusiasmado por voltar a Portugal após quase dois anos desde que encheu o Capitólio, na capital portuguesa, e o Hard Club, no Porto.
É uma das estreias no festival em Lisboa mais aguardadas. "A gente está muito feliz de estar aqui hoje. Esta vai ser a melhor noite das nossas vidas. Eu e vocês, juntos”, prometeu a um público eufórico por saber o que aí vinha. Depois de o cartaz de sábado ter deliciado roqueiros, o segundo dia da 10ª edição do Rock In Rio Lisboa certamente agradou quem gosta de pop, com 12 concertos de artistas jovens.
Durante uma hora, Jão pulou e fez pular um mar de gente com uma ‘setlist’ repleta de temas provocadores de amores e desamores, traições e vinganças, mas também sonhos e autodescoberta. Do disco que o lançou, em 2019, não faltou “Essa Eu Fiz Pro Nosso Amor”, e do 2º, “Pirata” (2021), “Santo” e “Meninos e Meninas”.
Esta última, um hino sobre aceitação e como o amor é universal. E o artista, integrante da comunidade LGBTQ+, reforça a mensagem ao aceitar de um fã uma bandeira arco-íris. “É o seguinte Lisboa. Todo o mundo de novo: e de todas as meninas e meninos que eu já amei, eu escolhi você”, põe o público a cantar. O refrão inspirou os mais criativos para chamarem a atenção de Jão. “De todos os cantores que já conheci eu escolhi você”, lê-se num cartaz apanhado pelos ecrãs gigantes. Mas os olhos do artista caíram sobre um outro pedido.“Eu vou-te abraçar, em breve!”, garante a uma fã bem à frente do palco.
A sensação, que esgota sempre bilheterias no Brasil - e por muitos considerada uma Taylor Swift brasileira -, partilhou nunca se ter sentido “tão em casa como aqui”. Entre aquela multidão algumas bandeiras denunciam que a “fanbase” brasileira está presente. A energia contagiante do público até mereceu uma declaração de amor, logo nos primeiros 15 minutos do “show”. “Estou apaixonado por vocês”.
O ambiente aquece com “Pilantra”, tema partilhado com a cantora brasileira Anitta, na versão gravada em estúdio. "Sai do chão, Lisboa!". Em jeito de brincadeira com o público, pisca o olho antes de começar a cantar “Vou Morrer Sozinho”. “Mais alto, está fraco!”, desafia o cantor, fazendo o público projetar a voz enquanto bate palmas.
Aquele palco temático já revelava que o reportório teria vários dos temas mais recentes, como “Alinhamento Milenar" - outro tema acarinhado pela comunidade LGBTQ+. Para a reta final, guardou “Carnaval”, uma das músicas que só entrou na versão ‘deluxe’ do último álbum.
Jão, agradecido por ter a carreira de sucesso que tem hoje, confessa ser “muito louco” atuar num palco tão grande. Mas nem sempre foi assim. “Pensava, um dia vai rolar, um dia vai acontecer e olha onde a gente está agora”, afirma, antes de tocar os primeiros acordes de uma guitarra acústica do single “Acontece”.
“Está faltando um cântico. Vocês já puxaram por ele”, diz, enquanto ouve os fãs a cantar o refrão de "Idiota". “Eu jamais discordaria de vocês”. A música, que lhe valeu milhares de ouvintes, foi sem dúvida a mais cantada no concerto de uma hora.
Homem de palavra, antes de se despedir, Jão desce do palco e abraça a tal fã, que se desfez em lágrimas. E como pontapé de saída, canta “Me Lambe”, um dos seus singles mais ouvidos. “Lisboa, me lambe!”. No final, ficou a promessa de que voltará em breve.
Antes de Jão, a tarde aqueceu com Iñigo Quintero no Palco Tejo, com temas do seu recente EP “Es Solo Música”. O cantor e compositor espanhol de 22 anos é também uma das estreias desta 10ª edição do Rock In Rio em Lisboa. Com um ar descontraído e com a confiança em palco de quem já anda nestas "andanças" há anos, Quintero chamou a atenção de largas centenas, num público também ele jovem. Mas não deixou de encantar pequenos e graúdos.
“Desconocido”, com uma batida energética, convida o público a trocar um passinho de dança. Aos vários agradecimentos que o jovem artista manda, há quem, na multidão retribua, em espanhol. “De nada, carinõ”. Entre o reportório, Quintero trouxe músicas especiais, sempre acompanhado pelo seu piano. E “Si No Estas” não podia ficar de fora. “Mudou a minha vida e trouxe-me a palcos como este”, afirma. O single lançou-o nas rádios nacionais, em 2022, e, desde então, internacionalmente no panorama pop.
De telemóvel ao alto, muitos quiseram registar o momento. Outros batem palmas e juntam-se à voz afinada de Quintero. “Tem sido incrível”, diz, emocionado, com lágrimas nos olhos. Apesar da energia contagiante de “Lo Que Queda de Mí”, muitos deixam este palco secundário perto da hora de Jão. Quase sem folgo, mas com um sorriso de orelha a orelha, Quintero despede-se da Cidade do Rock. O artista e a banda ainda levaram um “recuerdo” de volta para Espanha. Uma fotografia de grupo com o público. “Estou eternamente agradecido, muito obrigado”.