Museu de Serralves recebe a sua programação anual “mais ambiciosa de sempre”, anuncia a administradora Ana Pinho. Exposições de Francis Alys e Stan Douglas estão na festa de 2024. Casa Manoel de Oliveira acolherá exposição dedicada a Jean-Luc Godard.
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Durante quase 70 anos, a artista japonesa Yayoi Kusama desenvolveu uma prática que partilha afiliação com o Surrealismo, o Minimalismo, a Abstração e a Pop Art – mas que não pode ser confinada a movimentos específicos. Talvez por isso mesmo, o facto de inaugurar uma exposição no Museu de Serralves, no Porto, em março, eclipse toda a restante programação anual da instituição.
Yayoi Kusama tem 95 anos e nasceu numa zona rural do Japão, numa família de comerciantes que se opunha visceralmente à sua prática artística. O seu motivo visual construído por padrões circulares e quartos infinitos de grandes dimensões, com um pendor quase hipnótico, conseguiram unir várias gerações. Nos seus campos infinitos de bolinhas, consegue provocar um efeito de “auto-obliteração”, uma repetição das alucinações que dizia ter na primeira infância.
No Museu que cumpre este ano 25 anos, e no Parque de Serralves, a temática daqueles padrões ocupará o espaço de março a outubro deste ano. São mais de 200 obras balizadas de 1945 até à atualidade.
Mas nem só de Kusama se faz o cartaz anual dos 35 anos de Serralves e dos 25 anos do Museu: “É a [programação] mais ambiciosa de sempre”, qualificou Ana Pinho, presidente do conselho de administração.
Nem tudo é Kusama
Já em fevereiro inauguram-se duas novas exposições : “Anagramas improváveis” e “C.A.S.A.”, na nova Ala Álvaro Siza, em torno dos projetos do arquiteto que ganhou um Pritzker em 1992.
Por Serralves passarão ainda este ano exposições do belga Francis Alys, “a primeira na Europa em 15 anos, que será organizado com o Barbican Center, em Londres, e que versa a noção de jogo”, como detalhou Philippe Vergne, diretor da instituição.
O canadiano Stan Douglas colmata a programação que obedece ao signo da Revolução, a reboque dos 50 anos de abril e apresenta uma mostra com “momentos históricos de protestos globais”, diz Vergne.
Na representação nacional está Francisco Tropa, “um mix de Marcel Duchamp e Roland Barthes”, e também jovens valores, como é o caso de Sara Bichão.
Visitas anuais aumentam
Neste ano de efemérides, o Museu como Performance cumpre 10 anos. As artes performativas terão, entre outros apetitosos convidados, um ciclo dedicado a Teresa da Silva, bem como participações de Vera Mantero, Jefta van Dinther e Thais Campos. Mais: a Casa Manoel de Oliveira acolherá uma importante exposição dedicada a Jean-Luc Godard. Mais ainda: a Casa publicará o, prometido há anos, “catalogue raisonée” de Oliveira, uma parceria com a Cinemateca Portuguesa, revelou António Preto, diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira.
2023 foi o ano em que Serralves bateu o recorde de visitantes, atingindo 150 mil, valor superior a 2019. Também entre 2016 e 2023, “aumentámos de forma muitíssimo considerável as obras da coleção”, no valor de 79 milhões de euros, revelou Ana Pinho.
2024 assinalará ainda o regresso das instalações noturnas nos jardins do Parque “Serralves em Luz”.