Figura essencial na história da Humanidade e da construção do Ocidente e sua expansão, Jesus é um pilar identitário da nossa cultura, nas dimensões antropológica e transcendental, e a sua história, terrena e divina, continua em permanente estudo.
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A biografia "Jesus", escrita pelo jornalista brasileiro Rodrigo Alvarez, é um retrato histórico em que Jesus surge como um homem de vanguarda moral e social. Uma figura que, entre outras grandes e pequenas revoluções, assumiu uma rotura quanto ao papel das mulheres na sociedade do seu tempo.
"A própria aceitação de uma mulher no seu grupo, como foi o caso de Maria Madalena, era algo muito mal visto na época. Uma mulher não poderia conversar com um rabino nesses tempos. Ora Jesus não só conversa com as mulheres, há textos que falam disso, como elas o seguem para o ajudar na sua caminhada. Foi de certo modo um feminista".
"Um dos manuscritos mais intrigantes, conhecido como Evangelho de Filipe, afirma mesmo que havia três Marias na vida de Jesus, a sua irmã, a sua mãe e a sua companheira", sublinha o autor.
"Ainda que a vida de Jesus não tenha sido apenas feita apenas de atos pacifistas, a imagem que dele fica é a de um homem que quebrou regras e que, paulatinamente, foi fazendo pequenas revoluções que, com o passar dos séculos, acabaram por se transformar em grandes revoluções".
Oito anos de investigação
O livro, lançado agora pela Porto Editora, é o resultado de oito anos de investigações, com recurso à consulta das mais diversas fontes bibliográficas e arqueológicas. "Tentei demonstrar as contradições que existem entre os próprios evangelhos e as contradições existentes entre estes e outros documentos, como os Atos dos Apóstolos, os tratados dos patriarcas, o livros gnósticos e os pergaminhos que foram descobertos mais recentemente".
Rodrigo Alvarez foi jornalista e trabalhou como correspondente da TV Globo. A profissão ajudou-o a estruturar a biografia de Jesus e a elencar elementos de prova ou de dúvida relativos aos mais variados acontecimentos. Reconhece que o maior desafio foi o de "conhecer, interpretar e entender toda uma extensa e muito diversa bibliografia que sobre Jesus foi surgindo. Procurei o tempo todo onde a devoção havia interferido com o rigor histórico", conta.
Mesmo assim, reconhece, " na maior parte dos aspetos da vida de Jesus não é possível firmar um texto definitivo. Por exemplo, não há dados sobre a sua infância e juventude. O que existe são histórias inventadas para preencher lacunas. E também há dúvidas quanto à idade da morte, aos 33 anos.
Se quisermos conhecer a história de Jesus, não sob o ponto de vista religioso, mas pelo lado histórico, estas são algumas das muitas dúvidas que permanecem".