Jimmy P, alter ego de Joel Plácido, escolheu o Porto, onde vive, para apresentar o seu novo EP "Heartbreak", uma incomum viagem emocional e de redescoberta, que chegou na sexta-feira ao mercado e a todas as plataformas de streaming.
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O músico, que no início do ano passado comemorou dez anos de carreira, explica que este projeto começou na segunda quarentena ditada pela pandemia. "Emocionalmente, senti um peso e fui muito abaixo. Este trabalho foi um processo terapêutico", afirmou ao JN. O próprio reconhece que o seu nome tem a carga e a responsabilidade de ser revigorante, de ter boa energia e de contagiar alegria. Por isso, sentiu que tinha de conseguir exaltar esse lado para compensar os momentos que o Mundo inteiro viveu no último ano e meio. "Há pessoas que se entregam aos vícios. Eu ia todos os dias para o estúdio fazer música, que era aquilo que me ajudava a exteriorizar e a sentir-me melhor".
O resultado desse processo está presente nos seis temas sombrios e introspetivos que compõem o trabalho "Heartbreak". Jimmy P compara-o a "um limpa-palato, uma cápsula para refrescar e ser diferente". Faz a ponte entre o seu último álbum, "Abensonhado", e um outro que virá, diz.
O rapper admite que o EP "Mercúrio", colaboração com Carolina Deslandes, foi decisivo para este projeto. "Foi tudo muito despido, mas experimentei e gostei. Daí ter arriscado agora, mais nu e vulnerável." Ou seja, a solo. Aliás, revela, o tema "Leva-me a casa" fá-lo sentir fora da sua zona de conforto, despido, só com a sua voz e a sua guitarra. Mas isso não é mau, é evolução.
O futuro é uma incógnita. A pandemia ensinou-o a viver um dia de cada vez, sem fazer grandes planos. "Há coisas que quero fazer na minha vida e na minha carreira, mas ter projetos a mais é contraproducente. Quero desfrutar da viagem, do processo e de fazer música".
Pressão da viralidade
Conhecido por ser um artista digital, ressalva que o território de onde veio está a tomar o rumo errado. "Estamos a chegar a um ponto em que o consumo da música tem de ser sempre imediato. Vivemos uma ditadura de números, só somos bons se formos virais. E isso invalida todo o talento que não tem milhões de visualizações." A cultura de singles, continua, não é o suficiente para conhecer o artista. "A música tem de seguir um propósito maior do que o de perseguir a estatística", critica.
Esta conceção está vertida no videoclipe "Volta para ti", traindo a ideia de filtros que projetam imagens perfeitas que não correspondem à realidade. "Tens de descobrir-te primeiro, estares fixe contigo. Tudo o resto virá por acréscimo. Apesar de eu ser de outra geração, há uma cena frenética das redes que me assusta".
Jimmy P encontrou a paz através deste novo trabalho, mas assegura que antes disso teve de passar por um processo de cura, maturação e descoberta. "Na maior parte das vezes temos tendência para fugir destes confrontos ou para fingirmos que não existem. É um processo doloroso assumir que temos falhas. É preciso ter coragem para enfrentar demónios, para nos reconstruirmos e renascermos como pessoa. É um processo diário, não acontece do dia para o outro".