Joana Marques e Ricardo Araújo Pereira foram ao festival Fólio, em Óbidos, falar de liberdade, numa conversa que passou pelos Anjos, Zézé Camarinha, o deputado Gonçalo Capitão e Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros alvos de piadas que fizeram rir durante mais de uma hora.
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A liberdade, "uma coisa perigosa, chata e excelente" que faz Ricardo Araújo Pereira questionar-se sobre "se não devia ter outro passaporte", foi o mote para a conversa dos dois humoristas que este sábado esgotaram a tenda literária do festival em Óbidos, deixando no exterior centenas de pessoas que esperaram numa fila durante cerca de duas horas.
No encontro moderado por José Mário Silva, foi mesmo o moderador a arrancar as primeiras gargalhadas do público, ao citar as mais recentes obras dos humoristas: "do Ricardo, o livro 'Mundo para Quieto', e no caso da Joana a absolvição no processo judicial que lhe foi movido pela dupla de cantores Anjos, uma obra sobre o qual nada dirá este sábado, mas falará em sede própria, ou seja, num espetáculo de stand-up".
E se Joana Marques não ia falar do julgamento em que os Anjos lhe exigiam uma indemnização de um milhão de euros, disso foi falando Ricardo Araújo Pereira, para ironizar sobre a "hostilidade" com que os irmãos responderam ao seu cumprimento quando foi testemunhar a favor de Joana, ou sobre o momento em que "a advogada deles perguntou 'então, se é humorista, pode dizer tudo, quer dizer, se me encontrar na rua pode-me chamar cabra?'". Joana Marques diz que sim, mas "o Ricardo não o faz, porque é educado".
Num registo mais sério, os dois defenderam que não pode haver limites ao humor e lá foram falando do julgamento que "não tinha pernas para andar", ou de outros exemplos, como o incidente em que Will Smith deu uma bofetada a Chris Rock durante a entrega dos óscares.
"Pessoas que acham que uma piada é equivalente a uma agressão, são pessoas que nunca levaram uma boa carga de porrada", disse Ricardo Araújo Pereira, considerando que "tanto nesse caso como no dos Anjos há uma desproporção entre a carga potencial destruidora da piada e a reação".
Política sob julgamento humorístico
A este julgamento, que segundo Joana Marques "se tornou uma espécie de anedota gigante", seguiram-se as piadas a um processo de Zezé Camarinha a Ricardo Araújo Pereira, ou a ameaça de uma queixa-crime depois de o humorista ter feito piadas sobre o presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.
No que toca à política e humor, a conversa passou ainda pela intervenção do deputado Gonçalo Capitão, que irá este domingo ao programa "Isto é gozar com quem trabalha" e que o humorista conta "repreender", advertindo-o "eu não faço o seu trabalho, agradeço que não faça o meu".
Joana Marques deixou a promessa de continuar "mexer no lixo" de quem divulga vídeos nas redes sociais com o intuito de adquirir "um pack celebridade, mas só com a parte boa", e que irá continuar a ser alvo do seu humor.
"Um metro e meio de gente, com um ar fofinho, que gera muita raiva" ironiza Ricardo, sobre a colega que "não gosta de perder".
Joana Marques confirma que não gosta de perder, nem quando joga com os filhos de cinco e oito anos. Mas, disse: "Com estes manos já estou habituada a perder e reajo mal, com os manos Rosado não sei como reagiria, mas teria consequências terríveis, para mim e para eles".
Organizado pelo município de Óbidos, em parceria com a empresa municipal Óbidos Criativa, a Ler Devagar e a Fundação Inatel, o FÓLIO realiza-se desde 2015 na vila classificada como Cidade Criativa da Literatura pela UNESCO.