O sorriso com que Joana Vasconcelos se apresentou aos jornalistas, a meio da manhã de segunda-feira, permanecia exatamente igual quando, duas horas e meia depois, chegou ao fim daquela que terá sido uma das mais longas conferências de Imprensa da história de Serralves.
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Sempre disponível para mais um esclarecimento ou para responder a mais uma pergunta, a artista esbatia assim, perante um batalhão de testemunhas, a fama contrária, cultivada ao longo dos tempos.
A razão dessa solicitude explicou-a logo nos instantes iniciais da apresentação da exposição "I"m your mirror", quando confessou que "é bom estar de volta a casa, à minha terra". "Foi aqui que fiz a primeira aparição num museu e a minha primeira exposição com outros artistas internacionais", afirmou, recordando a apresentação da instalação de arte pública "Trianons", em 1996, no Parque de Serralves.
Depois da fulgurante passagem pelo Guggenheim de Bilbau, a exposição antológica - um dos pontos altos das celebrações dos 30 anos da Fundação de Serralves e dos 20 anos do museu de arte contemporânea - aterra a partir de hoje no Porto com vontade de bater novos recordes. Todavia, ao JN a artista dirá, já no final desta maratona, que não faz exposições "nem pelo público nem pelos números". O que a move, reforça, "é deixar as pessoas felizes".
Esse esforço de arrebatar o visitante da letargia é por demais notório nas peças incluídas na mostra. Como acontece com "Portugal a banhos", a obra insólita (uma piscina de 10 metros de altura com a forma geométrica do território português) que acolhe os visitantes, na fronteiriça Avenida Marechal Gomes da Costa.
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Se a mensagem ambiental impregna esta obra de 2011, cujo propósito foi o de chamar a atenção para a importância da sustentabilidade, outras peças que a artista natural de Paris comentou de forma pormenorizada debruçam-se repetidamente sobre questões tão distintas como os "direitos das mulheres", "o caos comunicacional" ou "a dicotomia consumismo vs. espiritualidade".
"É impossível falar do seu trabalho sem fazer-se uma referência à dimensão das causas", vincou Enrique Jucosa, comissário da mostra, que participa esta terça-feira, às 18.30 horas, no Auditório de Serralves, numa conversa com a própria artista.
"Artista do tampão"
A mostra que pode ser visitada até 24 de junho não é uma simples réplica da que atraiu 640 mil visitantes no País Basco. A culpa dessa singularidade deve-se, em larga medida, aos característicos jardins do museu portuense, que conduziram a um reforço da presença de esculturas de grande dimensão, como as icónicas peças "Marilyn" ou "Pavillon de thé".
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Numa exposição toda ela virada para a monumentalidade, há, ainda assim, espaço para as obras de reduzida dimensão. É esse o caso da série de faianças revestidas a croché com figuras animais. Uma homenagem assumida a Rafael Bordalo Pinheiro, "muito possivelmente, o maior artista português de todos os tempos".
Se Enrique Jucosa teve um papel determinante na escolha das obras, Joana Vasconcelos confessou que também participou no processo. Por isso, fez questão de incluir no rol de obras "A noiva". O lustre gigantesco, composto por 14 mil tampões higiénicos, causou furor na Bienal de Veneza de 2005 e seria decisivo para a afirmação do seu percurso internacional.
"Ainda hoje me chamam de "artista do tampão" em muitos sítios onde vou. Foi a primeira pedra de uma caminhada que continuo a percorrer", assinalou, com uma ponta de orgulho.