João Arrais, protagonista do filme português "A criança", falou com o JN sobre a carreira no cinema e sobre a ambição internacional.
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Estreia na realização dos jovens Marguerite de Hillerin e Félix Dutilloy-Liégeois, "A criança" é uma produção portuguesa de Paulo Branco, onde além de Maria João Pinho, Albano Jerónimo, Alba Baptista e Inês Pires Tavares, e do francês Grégory Gadebois, desponta o jovem João Arrais, nesta visão de um conto de Heinrich von Kleist, adaptado à realidade portuguesa do século XVI. Conhecido sobretudo pelos filmes de Carlos Conceição, como "Coelho mau", "Um fio de baba escarlate" e "Serpentário", o ator esteve à conversa com o JN.
Como é que este projeto chegou às suas mãos?
Foi um desafio do Paulo Branco, uma graça dos deuses que me caiu em cima.
Ao ler o guião, o que pensou do desafio?
Não falo francês. Fiquei com muita ansiedade. Mas foi um dos desafios que mais me entusiasmaram. O guião é esplendoroso, os realizadores fizeram um trabalho magnífico.
Como é que foi recebido pelos atores franceses do filme?
Começámos a trabalhar antes do início da rodagem, a ler e a pensar o texto. Criou-se uma relação de confiança interessante. É essencial para mim, como ator, saber que estou num sítio seguro. Os atores franceses também estavam nervosos com as falas em português. Acabou por se tornar mais fácil.
O filme é uma produção portuguesa, realizado por dois franceses, baseado na obra de um alemão e com ação em Itália...
Trabalhar com pessoas de outros países é um desafio muito grande, nem que seja pela língua. Há coisas que tentamos transmitir e, por melhores que sejamos noutra língua, há sempre pormenores que falham. Mas esse aspeto tornou a rodagem engraçada. E também foi interessante ver como os atores franceses encaravam as personagens.
Os dois realizadores são muito jovens. Como viu a forma de trabalharem?
Estavam com alguma pressão, porque é um projeto pelo qual têm muito carinho. Ficámos amigos e fiz tudo para que o projeto ficasse o melhor possível. Já tinha tido a experiência de trabalhar com dois realizadores, no "Soldado Milhões". As duas duplas funcionaram muito bem, como se fossem uma pessoa só.
Foi uma surpresa ver o filme, depois de pronto?
O filme é grandioso. Já sabia que eles são muito bons. Mas fiquei mesmo impressionado. Fizeram um trabalho magnífico. Senti-me orgulhoso de ter participado.
O filme foi selecionado para Roterdão, mas infelizmente o festival decorreu apenas online.
Foi uma sensação agridoce. É sempre bom estar lá, mas os realizadores merecem que o trabalho seja exposto. Temos tido algumas reações, as mais importantes vierem depois da estreia aqui em Portugal.
A internacionalização da carreira é um objetivo?
É um sonho e um objetivo. Se não for desta maneira, tentamos de outra. É seguramente uma ambição.
Aparece ao lado de Alba Baptista e de Inês Pires Tavares. Há uma nova geração de atores a afirmar-se?
Não sei se pertenço a uma geração, gostava de pertencer. Certo é que estão a aparecer jovens atores e atrizes muito interessantes. As duas jovens atrizes com quem contracenei são realmente inacreditáveis.
Tem havido uma cumplicidade muito grande com Carlos Conceição. Há mais alguns filmes a chegar, pode-se saber alguma coisa desses projetos?
Não posso dizer quase nada. O Carlos Conceição é o meu melhor amigo há muitos anos, é meu confidente. É uma pessoa que admiro e com quem tenho a grande honra de trabalhar.
O último filme dele, o "Serpentário", assentava todo sobre as suas costas...
Foi uma experiência única. Tinha 18 anos quando o fiz. A equipa era quase só eu, o Carlos Conceição, a mãe dele e o padrasto. Foi uma experiência íntima. O filme está todo nas costas do Carlos, eu só dei uma presença à história dele.
Também tem feito televisão. Como vai conciliando os projetos?
Sinto-me muito feliz no cinema. E à vontade. Não me importava que a minha carreira fosse toda feita no cinema. Mas quando há boa vontade é fácil conciliar cinema e televisão. A ideia de só fazer cinema em Portugal está muito longe.
As séries também estão a aumentar de qualidade no nosso país, não acha?
Tento sempre procurar projetos de qualidade e com os quais me identifico. Parece-me que existe realmente um aumento de qualidade nos projetos portugueses de televisão. Percebemos que o streaming abriu portas para outros mercados, outros orçamentos. E isso traduz-se na qualidade.
Já entrou também numa episódio do "Auga seca".
Foi uma pequena perninha, três dias em Vigo e dois em Lisboa. Foi interessante, para ver as diferenças de produção das duas equipas.