O coreógrafo João Fiadeiro doou esta manhã o seu acervo à Fundação de Serralves. O protocolo foi assinado com Philippe Vergne, diretor da instituição e Ana Pinho, presidente do conselho de administração da Fundação de Serralves.
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"Depois de já termos o arquivo de Manoel de Oliveira e de Siza Vieira, é com um gosto enorme que acolhemos um arquivo tão relevante e transdisciplinar, que sempre foi fundamental em Serralves", disse Ana Pinho. A doação à Fundação de Serralves do Arquivo Atelier RE.AL, pertença de João Fiadeiro, um nome maior da dança portuguesa e europeia, reúne 4000 títulos, entre textos, vídeos, áudios, imagens, artefactos, entrevistas, artigos de jornal e críticas.
"Esta doação permitirá ao Museu de Serralves, através do seu Serviço de Artes Performativas, ampliar as possibilidades de pesquisa, de divulgação e apresentação de um dos mais importantes exemplares de arquivos de dança internacionais" referiu a responsável.
João Fiadeiro, acabado de chegar de Madrid, disse que por trás da máscara estava a sorrir. "É um peso que me sai dos ombros e o culminar de um trabalho de 30 anos. O nosso foco de trabalho foi sempre o presente, mas ao fim de 30 anos já temos várias camadas de presente."
O coreógrafo disse ter um especial gosto pelo arquivo e pela memória, uma herança dos seus pais, que estiveram exilados no Brasil e em Argel até à revolução de 1974. E que esse era um motivo que o fazia ter especial afinco pela criação de arquivos.
Desde que o espaço da RE.AL, em Lisboa, encerrou em 2019, com o programa "Desocupação", que "o arquivo vivia na garagem do meu pai". Essa deterioração era algo que o preocupava. Contou, como anedota, que em tempos, o espaço Ginjal, onde trabalhavam, inundou, e que recebeu uma chamada do encenador João Garcia Miguel, com quem partilhava o espaço, e que lhe disse: "João, as tuas cassetes estão a boiar no Tejo". Essas cassetes são algumas das que serão tratadas e catalogadas agora em Serralves. As primeiras atividades para o público centradas neste espólio estão previstas para fim do ano.
Philippe Vergne agradeceu a "confiança que o coreógrafo depositou na instituição". A sorte de ter um arquivo vivo, afirmou, enviava uma "importante mensagem sobre o que são as artes performativas no século XXI". O diretor artístico da instituição explicou também a importância simbólica de receber este arquivo quando está patente a exposição "Para uma timeline a haver - Genealogias da dança enquanto prática artística em Portugal", de Ana Bigotte Vieira, Carlos Manuel Oliveira e João dos Santos Martins, onde é possível ver o lastro deixado por João Fiadeiro.
"Através da organização de exposições temporárias e itinerantes, a apresentar junto de teatros e centros coreográficos em Portugal e no estrangeiro, este importante arquivo de grande valor artístico e científico, representativo da memória coletiva de um país e da sua cultura performativa, irá adquirir uma nova vida, permitindo renovadas leituras dos seus documentos", rematou.
Para Cristina Grande, coordenadora do Serviço de Artes Performativas da Fundação de Serralves, este foi "um dia histórico".