Realizador de “Ice merchants” inaugurou festival Curtas de Vila do Conde 2024 a tocar ao vivo numa sessão de filmes-concerto. Festival decorre ainda até dia ao dia 21.
Corpo do artigo
Estreou-se no Curtas de 2017, com “The voyager”, na competição de filmes de escola Take One!. Em 2022, ganhou ali dois prémios. Um ano mais tarde, voltou a destacar-se como “New voice” e contou a aventura de “Ice Merchants”, filme que pôs as curtas-metragens portuguesas nas boca do mundo e levou, pela primeira vez na história do cinema, um português aos Oscars.
Este ano, foi um João Gonzalez ao piano que regressou ao festival Curtas de Vila de Vila do Conde para um filme-concerto que revisitou a sua obra e três escolhas pessoais – a banda sonora alternativa foi composta e tocada ao vivo pelo jovem cineasta.
A sessão abriu na sexta-feira à noite a 32.ª edição do Curtas e ali estava tudo o que tem marcado o festival: tónica no cinema português, qualidade, inovação, arrojo e vida.
Criações que pulsam ao vivo
“The voyager” foi o primeiro prato do menu cinematográfico e mostrou como tudo começou. Quando realizou a curta, Gonzalez tinha 21 anos e era aluno da Escola Superior de Média Artes e Design, em Vila do Conde, terra da família e do festival onde começou a ver curtas.
Já se sabia que o artista tem formação clássica em piano e é quase sempre compositor e autor da banda sonora dos seus filmes, mas agora era como se o processo de criação estivesse a fazer-se ali mesmo, vivo, à medida das imagens. Os solos de piano, o som dos passos, o medo, as descidas vertiginosas e tudo “sem rede”. No final, foi um novo “viajante” que se viu na tela.
Seguiram-se o muito doce “Father and daughter”, de Michael Dudok de Wit, o perturbador “Nestor”, de Gonzalez, e um desconcertante “Le ravissement de Frank N. Stein”, de Georges Schwizgebel. A fechar, o seu belo “Ice merchants” – que tocado ao vivo se agiganta ainda mais – e o bem-disposto “Au revoir Jerôme!”, de Adam Sillard, Gabrielle Selnet e Chloé Farr. Todos ganharam nova vida a partir do olhar – e dos dedos ao piano – de Gonzalez.
Areias musicado por Garbeck
A sala cheia deu as boas-vindas ao Curtas. A “qualidade, inovação e arrojo”, explicou o diretor, Mário Micaelo, trouxeram ao festival o reconhecimento nacional e internacional. Gonzalez é essa prova viva.
Até dia 21, há 239 filmes para ver em 83 sessões, nove conversas, quatro masterclasses, dois lançamentos de livros e uma exposição. O cinema português volta a ter “o palco que merece” e hoje destaca-se: “A pedra sonha dar flor”, novo drama de Rodrigo Areias, é musicado ao vivo por Dada Garbeck, às 17.30 horas. A competição nacional (ler ao lado) tem este ano 17 filmes e começa na quinta-feira.
Na competição internacional há 48 obras. Depois, há mais 61 películas para ver na Experimental e Take One! (arrancam segunda-feira), My Generation e vídeos musicais, a partir de quinta-feira.
Muito mais cinema português
Na competição nacional, há 17 curtas a concurso. “As minhas sensações são tudo o que tenho para oferecer”, de Isadora Neves Marques, estreou na Semana da Crítica em Cannes, “O jardim em movimento”, de Inês Lima, na Quinzena dos Cineastas e “Mau por um momento”, de Daniel Soares, recebeu uma menção honrosa no prestigiado festival francês.
Passam todos no Curtas 2024. Depois, voltam “repetentes” como Mário Macedo, Pedro Caldas e David Pinheiro Vicent, aos quais se juntam meia dúzia de caras novas.