Criador suíço passou pelo jornalismo e pela política antes de ancorar a sua criatividade na banda desenhada. O pequeno índio Yakari, que chegou a Portugal em 1974, é um exemplo de pedagogia e respeito pela natureza e pelo outro.
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Jornalista, editor, designer e lendário argumentista de BD, André Jobin, mais conhecido como Job, faleceu aos 96 anos, informou a editora Le Lombard.
Natural de Delémont, na Suíça, onde nasceu a 27 de outubro de 1927, formou-se pela Escola Superior de Jornalismo e pelo Instituto de Ciências Sociais e Políticas de Lille, tendo iniciado uma carreia de jornalista em diversos órgãos de informação suíços na década de 1950, antes de se envolver na política.
Em 1964 lançou "Le crapaud à Lunettes", um semanário que tinha por público alvo as crianças e adolescentes do seu país, onde lançaria a sua primeira banda desenhada, a série "Pythagore", protagonizada por uma coruja erudita, falante e brincalhona, de que seriam publicados três volumes, os dois primeiros pelo próprio Job. O desenho era do também suíço Derib, que anos mais tarde criaria "Buddy Longway".
E foi com Derib que Job conheceria o sucesso com as aventuras de Yakari, publicado pela primeira vez em 1969. Yakari é um pequeno índio da tribo lakota que consegue comunicar com os animais, vivendo em harmonia com eles e com a natureza.
Banda desenhada ecológica antes do tempo, longe dos estereótipos do western, por vontade expressa de Job, as suas aventuras, simples, dotadas de um bom humor e alicerçadas no respeito pelos outros e na sã convivência, alcançaram um rápido sucesso nas páginas de "Le crapaud à Lunettes", antes da edição em álbum. Para isso contribuiu também o grafismo de Derib, nomeadamente a sua planificação aberta e com vinhetas dentro de vinhetas, que conferem grande dinamismo e multiplicação de pontos de vista, e o traço agradável e sedutor para os leitores mais jovens a quem primeiramente se destinava.
Após 22 anos de publicação, "Le crapaud à Lunettes" fecharia as suas páginas, sendo substituído pela revista com o nome da sua criação de sucesso, "Yakari", publicada na Suíça ao longo de 256 números, entre 1974 e 1996, e que teve uma versão francesa de 1982 a 1984.
Job escreveria as aventuras de Yakari até 2014, num total de 38 álbuns, antes de dar lugar a Joris Chamblain e depois a Xavier Giacometti. Traduzido em cerca de 20 idiomas, incluindo o português, as aventuras de Yakari venderam mais de cinco milhões de exemplares e originaram um videojogo, duas séries animadas, dois filmes, romances e até um musical.
A estreia de Yakari em Portugal deu-se em 1974, no número inaugural da revista "Jacaré", com a história "A Grande Águia", que teria continuidade ao longo dos 17 números da publicação. Quatro anos depois, a Verbo encetaria a publicação em álbum tendo, ao longo de quase década e meia, publicado os primeiros onze tomos da colecção, tendo dois deles sido publicados igualmente no "Jornal da BD", em 1984 e 1985.
Reconhecido pelo público, entre outros troféus, Job foi distinguido duas vezes pelo Festival de Banda Desenhada de Angoulême, com o prémio da Juventude, em 1982 e 2006, pelos álbuns "Yakari et le secret de Petit Tonnerre" ("Yakari e o segredo do Pequeno Trovão", na versão portuguesa da Verbo) e "Yakari et les appaloosas".