Célebre quadro de Domingos Sequeira do séc. XIX será exposto publicamente num museu nacional. Todos os pormenores - quem comprou, quanto pagou e qual o destino da obra - só serão revelados na quarta-feira pelo Governo.
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Está confirmado: a emblemática pintura a óleo “Descida da cruz”, de Domingos Sequeira, irá estar em exposição pública num museu nacional. Depois da polémica em torno da sua saída do país, o quadro do século XIX, que chegou a estar à venda no estrangeiro, foi comprado por uma entidade privada portuguesa, permitindo, por meio de um entendimento com o Estado a assinar na quarta-feira, a sua exibição pública.
O jornal “Expresso” adianta que a entidade compradora é a Fundação Livraria Lello, que tem sede no Porto.
O Governo não confirma e remete novidades para a sessão de assinatura do “memorando de entendimento entre o Estado português e o proprietário”, a celebrar na quarta-feira, às 12 horas, no Palácio da Ajuda.
Questionada pelo JN, a assessoria da Fundação Lello respondeu: “Não temos comentários a fazer".
Para já, não há confirmação oficial sobre quem esteve por detrás da aquisição do quadro, na passada semana, que permitiu o seu regresso a Portugal.
Recorde-se que “Descida da cruz”, uma joia da pintura de arte sacra, tinha sido recentemente comprado à família do Duque de Palmela por uma galeria espanhola, que o chegou a expor para venda na feira de arte TEFAF, em Maastricht. A saída da peça do país foi criticada por várias entidades e especialistas, pela sua importância e por contrariar um parecer do diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), Joaquim Caetano.
Proposta de compra por 850 mil euros
O governo admitiu o erro e comprometeu-se a tentar retificar a situação e, segundo confirmou no dia 12 a empresa estatal Museus e Monumentos de Portugal (MMP), chegou a fazer uma proposta de compra do quadro por 850 mil euros à Galeria Colnaghi, mas viu a oferta rejeitada.
A aquisição foi então concretizada por “uma entidade privada nacional, em concertação com a MMP e visando, desde a primeira hora, o regresso da obra ao país”, acrescentou a empresa.
A compra foi efetuada no dia 10 de março. O valor pago não foi revelado.
Vai para o Museu de Arte Antiga?
Esta quarta-feira deverão ser conhecidos todos os detalhes desta aquisição, nomeadamente qual a entidade que a fez, por que valor ela foi efetuada e em que museu nacional a obra ficará exposta.
Tudo indica que será no MNAA, que já tem em sua posse outro quadro de Sequeira, bem como vários trabalhos preparatórios, da mesma série do pintor português.
Citando “fontes ligadas aos museus e galerias de arte” nacionais, o “Expresso” adianta que “o cenário mais provável é que a Fundação Livraria Lello, representada por Pedro Pinto – advogado, investidor no imobiliário do Porto e responsável pelo Centro Empresarial Lionesa, em Leça do Balio” – tenha “sido a entidade privada que se disponibilizou a adquirir a obra”
Pintura faz parte de série de quatro
“Descida da cruz” faz parte da série emblemática de quatro pinturas que Domingos Sequeira executou nos últimos anos de vida, em Roma, onde morreu em 1837.
Com criação estimada em 1827, a composição a óleo, de cariz religioso, representa o local do calvário de Cristo após a retirada do corpo da cruz. A mesma série conta ainda com “Ascensão”, “Juízo final” e “Adoração dos magos” – esta última, que já está na posse do Museu Nacional de Arte Antiga, tendo sido comprada por 600 mil euros por meio de uma inédita campanha pública de crowdfunding lançada em 2016.
O quarteto do percursor do movimento romântico na arte portuguesa “tem um valor excecional”, explicou em fevereiro ao JN o historiador Vítor Serrão, “e o Estado tem todo o interesse em reunir as quatro obras”.
Tudo indica que o governo gostaria de adquirir também os dois quadros restantes e, adiantou a historiadora Raquel Henriques da Silva ao JN no passado mês, eventualmente criar uma sala própria no MNAA, totalmente dedicada ao artista do século XIX.
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