Kátia Guerreiro foi a primeira convidada das conversas musicadas, no Festival Literário de Guimarães - Húmus. Hoje, o diálogo é com Pedro Abrunhosa e na quarta-feira, Luísa Sobral encerra o evento.
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A fadista Kátia Guerreiro foi ao Teatro Jordão, em Guimarães, esta segunda-feira, para uma conversa pontuada por momentos musicais, em que falou sobre a sua carreira, a canção nacional e a sua relação com a poesia e com os poetas. Revelou-se uma mulher de sorte a quem as oportunidades na música foram acontecendo com naturalidade, mas desgostosa com a forma como os portugueses se relacionam com o fado.
Uma fadista como convidada de um festival literário pode parecer estranho, mas o rumo que o jornalista Sérgio Almeida e a fadista Kátia Guerreiro deram à conversa depressa desfez a estranheza. A fadista falou de Florbela Espanca, a primeira poetisa que a impressionou na juventude e da forma como o fado a levou a conhecer outros poetas que tem cantado - Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, Vasco Graça Moura, entre outros.
Num registo intimista, Kátia Guerreiro confessou a pena que guarda por não ter correspondido ao pedido de Sophia de Mello Breyner para a ir visitar e da relação de amizade com Vasco Graça Moura. O fado “Até ao fim”, um poema de Vasco Graça Moura, inspirado na história de amor de Pedro e Inês, foi o escolhido para o segundo momento musical, depois do inevitável “Asas”, do primeiro álbum “Fado Maior” (2001). Houve ainda tempo para “Rosa Vermelha” e para aquele arrepio que se sente ao ouvi-la cantar: “Tenho um amor/ Que não posso confessar/ Mas posso chorar…”
“Os fadistas encaram a dor e a saudade de frente”
Para Kátia Guerreiro o fado é “uma canção muito particular, intensa emocionalmente”, em que “a dor é particularmente importante". Os fadistas, revelou, “encaram a dor e a saudade de frente”. Confessou que, por vezes, está a cantar as suas próprias histórias, mesmo sem as pessoas saberem. Defendeu o fado com verdade, “com nudez de alma” e referiu-se ao “ah, fadista!”: “é aquele momento em que a interpretação é tão intensa e saída das entranhas que nos dá um coice emocional”.
Chegou à ribalta do fado quase por acaso, quando foi convidada por João Braga para cantar no primeiro aniversário da morte da diva e foi comparada com ela na imprensa. Rejeita essas comparações com Amália que considera o nome maior, “uma verdadeira rainha da pop que levou Portugal e a língua portuguesa pelo mundo”. Impressiona-a encontrar franceses que sabem mais de fado do que a generalidade dos portugueses e que as casas de fado sobrevivam à custa dos turistas. “Portugal trata mal o fado e a Amália”, afirmou.
Esta terça-feira, às 21 horas, no Teatro Jordão, o convidado do Húmus é Pedro Abrunhosa que manterá uma conversa com a jornalista Sara Otto Coelho, entrecortada com momentos musicais. Luísa Sobral fecha as conversas musicadas do Festival Literário de Guimarães, na quarta-feira, no mesmo palco, à mesma hora.