Banda das irmãs Deal celebrou em Algés 30 anos do icónico álbum “Last splash”, num concerto onde houve tempo para “Gigantic”, dos Pixies. O próximo NOS Alive está confirmado para 10, 11 e 12 de julho de 2025.
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"Foi uma explosão", contava Kim Deal numa entrevista recente, sobre o lançamento de “Last splash” em 1993 – e sobre tudo o que se seguiu. "Fizemos tours, fomos a diferentes países, as pessoas ficavam tão animadas para nos ver; era muito divertido”, adiantava. A explosão foi forte, o pavio curto e a banda logo terminou; mas este sábado, na 16.º edição do NOS Alive, foi tempo de reviver o disco, o grupo, o período mágico que moldou a música e até a vida de alguns dos presentes e muitos dos ausentes.
A maioria das pessoas no Passeio Marítimo de Algés, neste último dia do festival, veio ver Pearl Jam, é certo. Foi por eles que a data esgotou num dia, logo se seguindo os passes. É por eles que muitos entraram cedíssimo no recinto e aguardam junto às grades do palco principal há horas, tentando garantir a melhor visão, a melhor experiência.
Mas, para parte de, ou algumas das, gerações que tanto admiram Pearl Jam- que aliás neste momento, são já uma banda intergeracional – o grupo de Dayton, Ohio foi também marcante. Tal como foram os Pixies; ou os Smashing Pumpkins, que deram no Alive outro concerto demolidor na quinta-feira; entre tantos exemplos do icónico rock do início dos anos 90.
A Portugal, as Breeders vieram então celebrar os 30 anos (agora já 31) de “Last splash, entretanto reeditado com uma remasterização inédita. Em palco, voltam a ser Kim Deal, também conhecida como uma das fundadoras dos Pixies – banda que se dissolveu pela primeira vez no ano em que o disco viria a sair-, a sua irmã gémea Kelley Deal, bem como Josephine Wiggs e Jim Macpherson.
Três mulheres, um homem, uma presença feminina tão forte que se normalizou a referência a elas assim mesmo, como “as”. Quanto a “Last splash”, o legado conta a sua história: envelheceu com a mesma graça com que surgiu, tornou-se num momento paradigmático do rock, com indie e pitadas de grunge e punk, letras entre o divertido, o cortante e o nostálgico, a voz melódica e rouca na medida certa de Kim Deal, um verdadeiro fenómeno da cultura pop - muito empurrado, mas não só, pelo sucesso estrondoso do tema “Cannonball”.
No NOS Alive, as Breeders entraram com “Saints”- a cantar “summer is ready, when you are”, que melhor maneira de começar. “Somos as Breeders e vamos tocar umas canções para vocês”, diz Kim ao início, sorriso aberto, um visual casual, aparentando mais nova do que os seus 63 anos. Tal como a irmã gémea Kelley, jeans e t shirt, “cool” como tudo, óculos de ler a tocar - quem nunca?
Depois de “Doe”, Kim pergunta a Josephine: “já atuámos aqui antes?”. A baixista, de boné na cabeça, óculos de sol, diz que não, Kim abre os olhos como quem diz “bem me parecia”, ar de gaiata, super expressiva, e logo ataca “Invisible man”. “Thank you, obrigado”, diz assim mesmo, essa vez e várias outras, depois.
Após “Safari” e “When was a painter”, com alguns aparentes enganos pelo meio dos quais os elementos se vão casualmente rindo, apresentam uma nova canção. “Estamos tão felizes de tocar aqui hoje” diz Kim. “É lindo, isto é lindo”, acrescenta a apontar para o rio: “podemos ver a água daqui!”
O público ia reagindo sem entusiasmo, aparentando desconhecimento, mesmo em temas como “New Year” (“I am the sun, I am the new year”, canta a vocalista).
Quando entram os primeiros uivos de “Cannonball” e os acordes do baixo, aí sim a reação é geral, Kim ri-se, usa um apito, parece estar genuinamente a divertir-se.
“Drivin' on 9” é outro ponto alto e depois diz: “esta é a minha irmã Kelley, e ela quer cantar uma canção”. Kelley explica: “está um mundo louco lá fora, as coisas estão doidas mas isto é o que eu tenho a dizer”, e entra “I just wanna get along”.
Tempo ainda para “Do you love me now?”, ou “No aloha” e, no final, “Divine hammer”. Antes de saírem, Kelley adianta que vão “tocar uma canção de outra banda onde a Kim esteve” e Kim acrescenta: “obrigada, passámos um bom bocado aqui, eu estive numa banda chamada Pixies, e vamos tocar uma música”.
O tema é “Gigantic”, fim perfeito para um concerto nem sempre fácil para o grupo, mas de alguma maneira e ao mesmo tempo, tão icónico como ele. Na saída de palco, enquanto Josephine faz aviões de papel para o público com a setlist, Kim pega na sua e faz questão de a ir dar pessoalmente, a uma fã, enquanto verbaliza e gesticula para ela “isto é para ti, tu estavas a divertir-te tanto, eu vi-te!”.
Se a maioria dos presentes apreciou as Breeders, é difícil de dizer; dir-se-ia que não. Se o grupo apreciou, dir-se-ia que sim. Se para quem as seguiu na altura, este foi um momento extraordinário por toda a mística, mas também pelo som (já não se faz muita música a soar assim), a atitude da banda, a postura, setlist, erros e tudo, e se de alguma maneira bate certo com tudo o que imaginávamos: completamente. “És linda, Kim!, gritava a dado ponto um dos poucos aficionados entre a multidão. Não há como discordar.
Datas confirmadas para 2025
Antes do grupo entrar em palco, ao final da tarde do último dia de NOS Alive 2024, decorreu a habitual conferência da organização, para fazer um primeiro balanço desta edição e apontar a próxima no calendário.
10, 11 e 12 julho são as datas confirmadas para 2025, com Álvaro Covões, da Everything is New, a garantir que, este ano, o festival acolheu 124 artistas, teve apenas dois cancelamentos de entre estes e cumpriu todos os objetivos de adesão do público.
No encontro, o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino de Morais, garantiu ainda que a autarquia irá apostar, nos próximos cinco anos, em significativas melhorias na zona do recinto, envolvente, área ribeirinha e acessibilidades.