Uma variação da história de "King Kong", numa banda desenhada sem uma única palavra, da autoria de Osvaldo Medina, com a chancela da Kingpin Books.
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Em 2015, "Kong the King" (edição da Kingpin Books) irrompia na banda desenhada portuguesa. Surpreendente e estimulante, aquela revisão de "King Kong", tinha o mesmo ponto de partida, a chegada de uma equipa de filmagens à ilha da Caveira e o transporte do seu colossal habitante para a metrópole, e assentava em dois pontos marcantes.
O primeiro, num desvio inteligente ao original, entregava o protagonismo não a um gorila mas sim a um selvagem - segundo os padrões do mundo civilizado; depois, era uma história muda, sem uma única palavra escrita ao longo de quase centena e meia de pranchas.
Era uma bela estreia como autor completo do até aí desenhador Osvaldo Medina, numa história em que o lado humano do "monstro" destinado a feiras e circos, aportava um turbilhão de emoções, muito bem gerido.
Agora, sete anos depois, a vida paradisíaca de Kong e da sua família, na ilha, é brutalmente interrompida pela chegada de nova expedição de brancos civilizados, com o objetivo de raptarem o filho entretanto nascido. Isto vai obrigar o protagonista a regressar à civilização, numa desesperada missão de salvamento.
Se, tal como da primeira vez, há alguma simplicidade no enredo, Osvaldo Medina, ainda em absoluta mudez, faz do novo relato novamente uma leitura apaixonante.
Num primeiro momento, pelo desenho magnífico, num traço semi-caricatural muito expressivo, assente num preto e branco rico de contrastes, mas no qual adivinhamos todas as cores, como um imenso arco-íris, na fauna e flora esfuziantes, soberbamente desenhadas, e na ligação, forte e profunda, que os protagonistas têm com ela.
Depois, valendo-se da sua experiência no cinema de animação, na gestão da ação, quase sempre em ritmo elevado, com apontamentos pontuais de calmaria para pontuar mudanças no estado emocional dos intervenientes, seja ele felicidade pura, bem-estar, desespero ou desejo de vingança.
A este lado bem humano, há que acrescentar a forma como gere a ação simultânea em dois locais diferentes e, principalmente, a conseguida planificação que, quando as necessidades narrativas o exigem, explode em vinhetas de grande dimensão ou numa disposição que surge quase anárquica, quando comparada ao modelo mais tradicional que lhe serve de base.
Kong the King 2
Osvaldo Medina
Kingpin Books
152 páginas, 19.95 euros