António-Pedro Vasconcelos está de volta com "Km 224", a partir desta quinta-feira nas salas de cinema.
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Um dos históricos do cinema novo, António-Pedro Vasconcelos sempre se mostrou do lado de um cinema rigoroso, sem concessões, mas virado para o público, com quem deseja manter uma boa relação.
Nesse sentido, terá sido, ao longo da sua obra, um dos nossos cineastas mais bem-sucedidos, com filmes como "O lugar do morto" (1984) e "Jaime" (1999) a colocarem-se, cada qual no seu tempo, como dos maiores sucessos de público do nosso cinema. E em ambos os casos, nada a apontar ao realizador, que assinou um policial de mistério e um drama social capazes de coabitar com o que de melhor se fazia por esse mundo fora.
Se juntarmos a esses dois marcos títulos como "Oxalá", "Os imortais", "Call girl" ou "Aqui d"el rei", uma das apostas mais audaciosas do audiovisual português, difícil é negar a APV, como é conhecido no meio, o lugar que merece no panorama do cinema luso.
E é por isso também, sobretudo neste momento em que a um eterno divórcio entre cinema português e público nacional se juntam a uma lenta recuperação do prazer de ir ao cinema que se torna importante salientar a estreia nas salas de um novo filme do realizador, com pouco mais ambição do que nos contar uma história. O que já é muito.
E a história do filme centra-se no processo de divórcio conflituoso entre um jovem casal com dois filhos, de seis e sete anos. O pai é um arquiteto que, por incúria ou azar, origina aparentes quebras na educação dos filhos quando toca a si tê-los consigo, enquanto a mãe, muito rigorosa com os filhos, tem na subida na carreira como administradora de uma cadeia de hotéis o maior objetivo de vida.
Resguardado por uma produção de Paulo Branco, com que se reconciliou depois de anos de costas viradas, uma fotografia eficaz de Mário Barroso, um José Fidalgo e uma Ana Varela a encaixarem bem com os dois miúdos do filme e uma Joana Africano que enche o ecrã com as cenas que interpreta, "Km 224" - fica para o fim o mistério sobre o título - é uma história contada na nossa língua e está à sua espera na sala de cinema.
Km 224
António-Pedro Vasconcelos
2022