Maria del Mar Suarez, La Chachi apresenta esta sexta-feira e sábado "Los inescapables alpes, buscando a Currito", no Teatro Municipal Constantino Nery, em Matosinhos
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Depois de Farruquito ter feito uma aparição no Festival DDD, em 2018, o flamenco estava, exceptuando tímidas representações, arredado da programação do certame. É com gáudio que o público pode ver a disciplina regressar ao festival, pela mão desta interessante atriz e bailaora de Málaga.
Como prefácio do que se irá passar estes dias no palco, com esta obra premiada com um Godot Dance Award, a malaguenha esteve a leccionar o workshop "Flamenco para corpos não-flamencos", no Campus Paulo Cunha e Silva. A formação dirigida a estudantes de artes performativas de nível avançado ou artistas foi das mais concorridas do DDD, com bastante público internacional.
A desconstrução dos códigos flamencos quando utilizados por separado, serve de importante combustível a jogos teatrais, com resultados totalmente inesperados. "Primeiro para ser flamenco há que ter uma cara de quem está constantemente a desafiar o Universo", ditava a formadora perante uma plateia internacional, maioritariamente europeia, embevecida.
Noutros jogos aproveitou a percussão e as palavras dos jaleos para incendiar a energia dos presentes que cantavam e dançavam, sem reservas, rendidos à proposta, porque "a única forma de que a música nunca morra é levar a música connosco". O uso do tempo, aumentando ou diminuindo as batidas por minuto, ou o volume é dos que mais aumenta a ludicidade.
O uso de códigos visuais foi também recorrente na formação, em que os alunos eram instigados a criar figuras flamencas estáticas, ou a usar acessórios como mantons, leques, sapatos ou saias para lhes dar um uso inesperado. Houve leques como caudas de pavão, mantons como toalhas de mesa, sapatos como telefones, saias como redes e uma multiplicidade de propostas hilariantes.
Apesar de o workshop ser dirigido a não-flamencos, havia entre os formandos quem tivesse formação na área o que levanta questões muito interessantes. Quem domina o código tem uma série de amarras, não conseguindo dissociar-se de códigos como compasso, letras ou sequências de movimentos, a liberdade do desconhecimento é muito mais pândega e menos balizada dentro do seu jogo.
Hoje e amanhã, o jogo amplia-se, La Chachi vai "em peregrinação pelos Alpes à procura de Currito", quem quiser acompanhá-la na devoção não sairá indiferente, como explica "nós, flamencos não somos de meios termos, quando somos felizes temos a maior alegria e quando somos infelizes, temos uma tristeza que nos sai das entranhas".