"Aqui está-se sossegado" era apenas um espetáculo de Camané e Mário Laginha. Agora, é também um disco.
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Atuaram pela primeira vez juntos na Culturgest, em Lisboa, no âmbito de um evento privado. Cimentaram essa cumplicidade desde então, já lá vão mais de 20 anos. Um é fadista. O outro é, de formação, músico de jazz. Ao seu mais recente projeto conjunto chamaram "Aqui está-se sossegado". Tem Camané na voz e Mário Laginha ao piano. Começou por ser um espetáculo e agora está plasmado num disco. O álbum será editado no dia 15 de novembro. E dia 20 de dezembro apresentam-no ao vivo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
A primeira memória que têm de um encontro em palco foi no lançamento de um novo automóvel. "Era um evento privado " , recordou a propósito Mário Laginha. "De então para cá já temos colaborado mais vezes". Foi Camané que, há um ano, sugeriu que ambos fizessem uma série de concertos em que a sua voz fosse apenas acompanhada ao piano. "Mergulhamos a fundo na ideia de tocar o fado a dois. Foi um desafio enorme", reconheceu Mário Laginha, para quem o piano não visa substituir a guitarra de fado, porque é insubstituível. "Percebi que poderia fazer algo diferente mas com influência do som da guitarra".
Camané lembra que o fado, quando foi levado para os salões da aristocracia, era acompanhado ao piano. "Sabemos que aconteceu assim embora não existam registos sonoros. Mas depois de começarmos a trabalhar juntos neste projeto percebemos que fazia muito sentido. Este não é um disco de jazz, é um disco de fado".
Mário Laginha concorda com com a definição. "Estudei mais sobre o fado. Ao piano comecei por imitar o som da viola e da guitarra", explica o músico, que não quis que essa primeira abordagem fosse "o fim do caminho". Era preciso "legitimar" a existência de um piano. A insistência, diz, resultou. "Tentei fazer de uma maneira que fosse uma maneira de cantar ao piano. Não substitui a outra mas também não é igual. Depois, como fomos fazendo concertos, este conceito foi depurando. E nós também fomos ficando mais cúmplices. Foi o sentimento dessa cumplicidade crescente que nos fez querer gravar".
No disco, Camané retoma um tema do repertório de Alfredo Marceneiro, "A casa da Mariquinhas", e gravou, pela primeira vez, "Com que voz" , de Amália Rodrigues, de que também canta "Abandono". Entre os inéditos, o fadista volta a gravar Pessoa, com "Aqui está-se sossegado", tema que dá título à obra. Outros inéditos são "Rua das sardinheiras", de Maria do Rosário Pedreira, com música de Mário Laginha, e "Se amanhã fosse domingo", de João Monge e Laginha, que também assina o tema "Rua da fé".