O festival de circo de rua, Vaudeville Rendez-Vous, encerra este sábado. Em frente à Câmara Municipal de Braga há uma estrutura bizarra - e deslumbrante - que serve para contar uma história.
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“Lemniscate” é uma exploração da dialética espaço-tempo, num universo fantástico, que gira como o nosso mundo e no qual a existência de dois bailarinos (Nicolas Sannier e Amélie Jousseaume) e um acrobata (Benjamin Lissardy) está tão repleta de imprevisibilidade como as nossas próprias vidas. O espetáculo exige mais do que a simples disposição para ver acrobacias de circo, é preciso estar disponível para se deixar envolver numa história.
O espetáculo da companhia francesa Bivouac é um dos grandes destaques do festival Vaudeville Rendez-Vous e estará em cena no sábado, às 22 horas, na Praça do Município de Braga. A entrada é gratuita.
Um deslumbre geral
Tudo começa com o deslumbramento, que o público não pode deixar de partilhar, ao encarar aquela estrutura, estranha e bela, composta pelo pêndulo e a lemniscata (quer dizer: uma curva geométrica em forma de oito).
O espanto dá lugar à necessidade de explorar, primeiro com medo, tateando o caminho, mas progressivamente com mais confiança. Na frente vai Amélie Jousseane, Nicolas Sannier segue-a e, juntos, entre desequilíbrios e escorregões, tomam conta daquele mundo, onde se vão sentindo cada vez mais à vontade.
Eis que surge um terceiro elemento para quebrar a harmonia. É sempre assim ao longo deste espetáculo: logo que o equilíbrio é encontrado, há um qualquer acontecimento que o destrói e é preciso recomeçar tudo de novo.
Não sem uma nota de humor, a atenção de Amélie, que antes era toda para Nicolas Sannier, vira-se para Benjamin Lissardy que, todavia, parece um pouco relutante.
Vida a balançar
A tensão resolve-se quando os três voltam a aventurar-se e o espetáculo começa a caminhar, embalado pela música, para o seu momento apoteótico, com Nicolas Sannier e Benjamin Lissardy a alternarem num “pole” chinês que é, na verdade um pêndulo, numa série de “quase acidentes”, entre o hilariante e o assustador.
O tempo (o pêndulo) não pára e, numa dança aparentemente caótica, por vezes parece que só por acaso é que não atinge os protagonistas. É um momento de prender a respiração, com o enorme peso a passar a escassos centímetros da cabeça dos protagonistas.
Uma ou outra vez, Nicolas Sannier é mesmo atingido, num ombro ou nas costas, de raspão. Podia ser pior, foi o destino, ou, foi como Deus quis, ou ainda, é a vida. É disso que se trata aqui.