A artista portuguesa integra a coleção deste museu francês e duas das suas obras estão atualmente em exposição.
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O atual Capc, Musée d’art contemporain de Bordeaux, ocupa o edifício que, há precisamente 200 anos, em 1824, era construído e criado como armazém destinado aos bens alimentares que vinham das, então, colónias francesas. O edifício é assim uma das marcas da história colonial de Bordéus, cidade com um importante porto e que se revelou fundamental para a exploração colonial francesa. E, depois da sua fundação em 1973, o Capc instala-se no designado Entrepôt Lainé, permitindo o início da reconstrução da memória coletiva que, não esquecendo o lado negro do seu passado colonial, procura, através da programação cultural e da constituição de uma coleção de arte contemporânea, proceder a um exercício de reparação. E, por estes dias, uma das exposições a ver neste Museu de Arte Contemporânea faz, precisamente, referência a este história com 200 anos, com uma abordagem que não glorifica, mas, antes, historiógrafa de forma bilateral, permitindo um processo de identificação que integra as visões do colonizador e dos colonizados.
A memória do antigo armazém foi preservada no projeto de arquitetura que adaptou este edifício para o acolhimento de exposições de arte contemporânea e também para o funcionamento do seu centro de arquitetura, o que dá ao lugar condições muito especiais de exibição. A conceção do edifício não se coaduna com a ideia de no man's land, para a qual os museus tendem cada vez mais, fazendo-nos, antes, revisitar a História e sentir a alma daquele lugar, excelente ponto de partida para a descoberta de Bordéus, a cidade do também cônsul português, Aristides de Sousa Mendes (PT, 1885-1954).