
Lil Nas X fechou o palco principal do Nos Alive, na sexta-feira à noite
Rita Chantre/Global Imagens
Irreverente e disruptivo, o novo ícone do rap-pop norte-americano suou e fez suar o Passeio Marítimo de Algés. Em cima do palco, coube tudo mais um par de botas (obviamente cintilantes), menos tabus.
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Depois do estrondo que foi Lizzo e das quase duas horas da simplicidade irrepreensível de Arctic Monkeys, coube a Lil Nas X a missão de encerrar o palco principal da segunda noite do Nos Alive (por onde também passaram os roqueiros Idles), já não tão a abarrotar como durante o concerto dos britânicos, mas ainda assim cheio. Irrompido pelo nevoeiro de Algés, qual D. Sebastião regressado, o rapper norte-americano de 24 anos - símbolo de um novo hip hop que passa ao lado do que é suposto - deu tudo e não deixou nada (nem as calças, que a dado momento se rasgaram, tal foi o fervor dos movimentos).
Nascido como Montero Lamar Hill, o autor de "Old Town Road", que funde rap, pop e country, fez um espetáculo extravagante e completo que contou com uma excêntrica iconografia cénica, com luzes, fumo, uma serpente e um cavalo gigantes em palco e um clã arrojado de bailarinos que ajudaram a mobilizar o público logo no arranque, ao som de "Montero (Call Me By Your Name)", a que se seguiram "Batty Boy", "Scoop", "Death Right Now" e "Don't Want It".
De peruca loira, calças brancas largas à cowboy e uma espécie de corpete metálico a evidenciar os abdominais - tudo o que o rapper típico da indústria não costuma vestir -, Lil Nas X mostrou logo, como o tem feito em toda a discografia e nos videoclips disruptivos, que não está aqui para ser igual aos outros e que não tem medo de atropelar os estereótipos sociais associados à masculinidade e à virilidade.
O tempo do rapper que tem de falar de armas, dinheiro e mulheres para o ser já passou há muito. E a porta da celebração da diversidade sexual e de identidade de género também dentro do estilo foi aberta a pontapé. Lil Nas X, homossexual, ativista LGBT e ícone da luta contra a homofobia nos Estados Unidos, foi quem a pontapeou à força. O videoclip de “Montero”, em que o artista beija um extraterrestre e faz uma dança sensual no colo do demónio, e as músicas em que fala sobre relações sexuais com homens são só um cheirinho disso.
"Old Town Road" (lançada em 2019 e que catapultou Lil Nas X para o topo das tabelas e para um sucesso internacional inesperado) foi, sem surpresas, um dos momentos altos da atuação, a que se seguiu uma primeira pausa para troca de roupa, assegurada em palco por um espetáculo de dança ao som de um medley que combinou Rihanna, Olivia Rodrigo e Megan Thee Stallion. No regresso, já em tronco nu apenas com um colar colado ao pescoço, uns mini-calções com a cabeça de um touro na zona pélvica e um par de botas cintilantes, tudo em azul elétrico, o rapper trouxe "Panini", "Down Souf Hoes", o hit "That's what I want" e "Lost in the citadel". Antes de sair do palco pela última vez e de se despedir de um público que se manteve vibrante até depois das duas e meia da manhã, Lil Nas X pediu às pessoas que não desmobilizassem e fez uma segunda pausa que antecedeu um final triunfante com "Industry Baby".

