Proprietários das edições inaugurais desafiados a venderem obras. Valor pode atingir 250 mil euros. Candidatura a Património da Humanidade avança.
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É um "alerta geral" dirigido a todos os detentores de uma das mais disputadas obras do mundo dos livros: a Livraria Lello, no Porto, vai anunciar hoje o lançamento de uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) no valor de 250 mil euros sobre um volume da primeira edição de "Os Lusíadas", datada de 1572. A livraria portuense já possui edições em inglês e francês, mas pretende agora uma no idioma original do livro mais significativo da portugalidade.
De acordo com o levantamento feito pela livraria, "haverá uma dúzia" de exemplares que preenchem esses requisitos. Um desses livros é pertença do Ateneu Comercial do Porto. Em 2014, foi noticiado que a secular instituição chegou a ponderar a venda do mítico exemplar para poder saldar dívidas, mas terá conseguido entretanto solucionar a questão. Uma das medidas que evitaram esse desfecho foi a venda de edições fac-similadas da raridade de 1572, por 720 euros.
A OPA da Lello estende-se também a "Harry Potter e a pedra filosofal", o primeiro volume da saga criada por J. K. Rowling. A edição original inglesa foi composta apenas por 500 exemplares, sendo que as bibliotecas locais ficaram com 300. Quem tiver um dos 200 exemplares restantes pode vendê-lo por 75 mil euros.
Por fim, a Lello propõe-se também adquirir uma cópia de "A Gazeta da Restauração", de 1641, a primeira publicação periódica portuguesa. O valor da compra é de 1500 euros.
"Investir" em livros
"Com esta OPA, queremos alertar as pessoas para o bom investimento que os livros representam. Pode ser tão ou mais valioso do que um quadro", sustenta Aurora Pinto, administradora da Livraria Lello.
As ofertas têm datas-limite de aceitação: o óbvio 10 de junho para "Os Lusíadas"; 31 de julho (data de nascimento de Harry Potter) para o livro da escritora inglesa, e 3 de maio (Dia Mundial para a Liberdade de Imprensa) para "A Gazeta da Restauração".
O regulamento que contém as normas da aquisição vai ser dado a conhecer hoje, nas celebrações do 113.º aniversário da livraria (ler caixa). As propostas de venda terão de ser validadas por uma comissão técnica criada para o efeito.
Novos recordes
Em 2018, a Lello voltou a bater recordes de visitantes. A subida rondou os 13%, percentagem que poderia ser ainda superior se a Livraria Lello não tivesse tido necessidade de limitar o acesso público em períodos de maior fluxo. "Ainda recentemente, no Dia de Reis, tivemos de deixar de fora muita gente, sobretudo espanhóis. A fila atravessava várias ruas", explica Aurora Pinto.
Para contornar as evidentes limitações físicas, a administração comprou nos últimos meses o edifício anexo à livraria, mas as obras de ampliação estão dependentes da saída de um dos atuais inquilinos.
Ainda mais notório em 2018 foi o aumento na venda de livros. Cerca de 35%, segundo a responsável, o que perfaz 1200 livros vendidos todos os dias. Esses números devem-se ao êxito que tem sido a retoma da atividade editorial, sobretudo as edições de clássicos.
"Ao criarmos o "voucher", queríamos transformar cada visitante num leitor, para que o valor de quatro euros fosse descontado num livro. A percentagem já é de 50%, mas queremos mais", realça a administradora, que destaca a popularidade de algumas edições, como "O Principezinho", de que chegam a vender "300 exemplares por dia.
Já este ano, a Lello vai colocar em marcha a candidatura a Património da Humanidade da UNESCO. A comissão já foi constituída e a formalização vai acontecer nos próximos meses.
Um dia recheado de iniciativas para assinalar o 113.º aniversário
As origens portuenses do fado, "Os Lusíadas" e a língua gestual - as três "causas" que a Lello elegeu para 2019 - vão estar em foco hoje nas comemorações do 113.º aniversário da livraria.
A partir do meio-dia, as montras vão destacar as obras sobre as quais vai ser lançada uma OPA (ler texto principal): "Os Lusíadas", "Harry Potter e a pedra filosofal" e o periódico "A Gazeta da Restauração".
À tarde, o fado assume o protagonismo. Primeiro, às 16 horas, através da inauguração da exposição "A Severa que vocês nunca viram", em que serão mostrados os primeiros fonogramas gravados em Portugal, no ano de 1930. Às 16.30 horas, José Moças, Rui Vieira Nery e Maria do Rosário Pedreira debatem "O Porto, o fado e outras músicas". De seguida, às 18, Gilda Nunes Barata, José Saraiva e Maria João Lopo de Carvalho analisam as causas da Lello para 2019. A terminar o dia, Patrícia Costa vai cantar "O fado da Livraria Lello".