
Depois da muito oportuna reedição, em forma de integral, de "O Vento nos Salgueiros", a Arte de Autor leva-nos de novo ao universo criado por Kenneth Grahame no traço de Michel Plessix
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"O Vento nas Areias" é um regresso ao universo criado por Kenneth Grahame no traço de Michel Plessix.
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Sendo, sem dúvida, uma leitura para os mais novos, que serão seduzidos pelo tom aventureiro, o humor, as personagens divertidas e as constantes surpresas, "O Vento nas Areias", mesmo cumprindo plenamente esse propósito, será sempre muito mais do que isso. Dará muito mais aos adultos que se deixarem levar pela ternura do relato, a ode à amizade e os subentendidos e os comentários sobre a personalidade das personagens que, sendo animais - Rato, Sapo, Toupeira, Texugo... - espelham à saciedade o que são os seres humanos e abordam temáticas tão sérias como o orgulho descabido, a ilusão da autossuficiência, as crises de meia-idade, a dificuldade de ser generoso ou o lidar com a perda.
Depois da muito oportuna reedição, em forma de integral, de "O Vento nos Salgueiros", a Arte de Autor leva-nos de novo ao universo criado por Kenneth Grahame no traço de Michel Plessix, num volume que reúne os cinco álbuns originais do segundo ciclo das movimentadas aventuras daqueles animais.
Após explorarem os recantos do bosque em que habitam, desta vez partem de forma inesperada para o outro lado do mundo, para terras de árabes e desertos, onde os costumes, as crenças, os hábitos e a forma de estar são bem diferentes.
A leitura vai dividir-se entre o belíssimo traço de Plessix, que dota as suas personagens de um aspeto agradável e cativante e os cenários de um realismo mágico, a narração de sucessivas idas e vindas atribuladas, a excitação da procura do tesouro que os vai nortear, os sucessivos apontamentos de humor - protagonizados pelas moscas, os camelos... - espalhados pelas pranchas, que obrigam a uma atenção redobrada, e os grandes espaços por onde passeiam os protagonistas, misteriosos e desconhecidos, recorrentemente transformados em oásis de sonho, numa narrativa que transmite enorme serenidade em contraste com um ritmo enganadoramente inebriante.
Com diálogos ricos, as descrições necessárias para situar no tempo e no espaço o relato e as reflexões interiores de cada um, "O Vento nas Areias" revela-se uma leitura apaixonante e sedutora e também um convite ao descanso, às viagens e à descoberta, ideal para leitores cansados de um ano de trabalho que se sentem levados como que "num sonho acordado", como, em contexto bem díspar, cantava Fausto.

