O Coliseu Porto Ageas recebe nesta sexta-feira espetáculo do autor que reinventou a magia portuguesa.
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Luís de Matos apresenta hoje e amanhã o espetáculo "Conectados" no Coliseu Porto Ageas. A Invicta ensinou-lhe o bê-á-bá da televisão em 18 anos de percurso (aqui aprendeu que quando uma luz vermelha se acende significa que se está a gravar), e por isso esta é a sua segunda cidade preferida, depois de Coimbra, onde vive.
O ano de 2020 foi anormal para todos, e para Luís de Matos e a sua equipa, que se aprestavam a comemorar 25 anos de carreira com uma digressão de 24 semanas em 24 capitais europeias, foi especialmente custoso. De todas as datas apenas a primeira, em Praga, na República Checa, se realizou. Depois foi como se "um piano lhes tivesse caído em cima", conta ao JN.
Depois de uma quinzena de apatia, um artigo do manager de Billie Eilish provocou-lhe uma epifania. Com o título "Sink or swim" (Afogar-se ou nadar) percebeu que teria de nadar incondicionalmente e sem qualquer questionamento.
"Não quero de todo romantizar a pandemia, tenho o mais profundo respeito pelas pessoas para quem a pandemia marcou a partida de membros da família. Mas nós estamos vivos e temos de celebrar e temos a obrigação de nadar".
Luís de Matos convocou toda a equipa para uma reunião em segurança num parque de estacionamento e fizeram um plano a longo prazo. "Isto não vai lá com curativos, temos de pensar numa solução para dois anos sem trabalhar da forma como fazemos atualmente", disse.
A partir daí surgiu uma série de ideias, umas que vingaram e outras que não, sobre o que seriam esses dois anos. Durante a pandemia ninguém foi dispensado. "Em 25 anos de empresário nunca despedi ninguém. Houve pessoas que se foram embora, mas nunca por minha decisão", conta. Numa equipa como a sua "precisamos mais do que nunca de estar todos juntos e reunirmo-nos todos". O segredo é uma combinação como um golpe de ilusionismo: "Ter uma ambição desmedida e uma humildade desmedida também, porque há coisas que não conseguimos, há sortes e talentos com os quais não fomos bafejados".
Cultura drive-in
E foi com essa ambição que o ilusionista e a equipa do seu Estúdio 33 partiram para a engenhosa solução de fazer espetáculos em drive-in durante a pandemia. Luís de Matos diz que dificilmente vai esquecer o dia 24 de maio do ano passado, quando Pedro Abrunhosa, perante uma plateia de 70 automóveis, grita ao microfone: "A cultura declara o país aberto".
Desta solução resultaram 21 espetáculos, 11 dos quais assegurados pelo ilusionista que nunca tinha atuado para uma plateia de viaturas. A ele juntaram-se Pedro Abrunhosa, António Zambujo, Carolina Deslandes, José Cid e também Marco Horácio com o projeto Rouxinol Faduncho que lhe garantiu: "Para viver o que vivemos hoje valeu a pena estar quatro meses fechado".
O outro plano chegou com um promotor espanhol que os convida a fazer várias datas em Zamora com uma plateia pela metade. E aqui nasce "Conectados".
"Não vamos fazer isto fruto da contingência, mas sim fruto da ambição, e vamos alargar a plateia a quem está em casa", conta. E foi um êxito.
Por cada bilhete presencial há um outro virtual para quem está em casa e acede via Zoom, e as histórias de união multiplicam-se, como a família que tinha membros na Argentina e conseguiu estar toda no espetáculo em simultâneo.
Em 26 anos, há truques que se mantêm, embora melhorados, porque um artista é sempre o "último espetáculo que fez".
Parece que o tempo não passou, o que é fruto de uma "felicidade prolongada no tempo", conta. Para ver hoje, às 20 horas, e amanhã às 11 horas.