Espetáculo do cronista passa por sete cidades. Porto acolhe-o no dia 15, Lisboa no dia 23. Viseu é já esta sexta-feira.
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"Isto não é teatro, não é stand-up, não é improviso, nem é jornalismo, nem deixa de o ser", explica Luís Osório sobre "Ficheiros secretos", o espetáculo que leva agora à cena em sete localidades. O formato é baseado em "Ficheiros secretos - Histórias nunca contadas da política e da sociedade portuguesas", o seu oitavo livro. Luís Osório é a personalidade acutilante com um olhar peculiar sobre a sociedade portuguesa que dirigiu jornais e uma estação de rádio, e é presença assídua na televisão, como comentador político e consultor empresarial. Entre outras aventuras, realizou documentários e foi premiado como jornalista e criativo.
O seu novo projeto consiste em levar a palco o livro, que, depois de uma estreia nos Recreios da Amadora, enceta agora uma recheada digressão com a primeira data a materializar-se já esta sexta-feira no Teatro Viriato, em Viseu.
No dia 15, chega ao Porto, à Casa da Música, onde terá como convidado especial Jorge Nuno Pinto da Costa, mítico e sempiterno presidente do Futebol Clube do Porto, que para sua "surpresa" aceitou o convite (ler depoimento ao lado). Na plateia estará também Pedro Abrunhosa, que será igualmente visado no espetáculo, já que o jornalista promete contar histórias sobre as respetivas famílias.
Eanes, Tony, Simone...
"Para o conceito de palco é necessário adaptar um pouco ao lugar onde se está, e o Porto e Lisboa fogem um pouco ao guião, porque são cidades cosmopolitas, era necessário escolher personalidades inequivocamente relevantes", explica Luís Osório ao JN.
No livro figuram 50 crónicas, sendo que de "90% destas foram contadas na primeira pessoa, com o privilégio de ter conhecido as personagens", diz o autor.
Além da passagem pelo Porto, uma semana depois, no dia 23, Luís Osório estará no Teatro Tivoli, em Lisboa. Aqui os convidados serão Manuela Eanes, Tony Carreira, Domingos Abrantes, Simone de Oliveira e Graça Freitas. Em abril, o espetáculo passa pelo Cineteatro Messias, na Mealhada (dia 15) e pelo Auditório de Reguengos de Monsaraz (dia 22). Em maio, o espetáculo chega ao Fórum Cultural de Alcochete (dia 5) e ao Auditório da Moita (dia 12).
"Este espetáculo invoca História e histórias. É o exercício complexo de encontrar uma forma para que as pessoas não saiam da mesma maneira. Uma forma de convocar a morte e os mortos, já que por vezes estão mais vivos em nós do que em vida, porque é tudo à superfície" , conta.
No espetáculo, Luís Osório recupera ficheiros da política e da sociedade portuguesas que estavam guardados no fundo do baú - desde o último encontro entre Cunhal e Soares antes do 25 de Abril, o voto contra a fundação do PS de Maria Barroso, ou o dia em que Alberto João Jardim cantou para Salazar.
"Não sou ator, mas tenho de respeitar o palco e reunir pessoas que têm a quarta classe e são professores universitários. É uma grande responsabilidade", conclui.
DEPOIMENTO
"O Jorge Nuno que estará comigo é o outro", por Luís Osório
Gosto de três palavras que estão em desuso ou fora de moda. A palavra profundidade, a palavra "silêncio" e a palavra "lentidão". Este nosso tempo dá importância a outras três palavras que são o contrário das que prefiro - a profundidade é menos importante do que a "superfície", o silêncio é menos valorizado do que o "ruído" e a lentidão não tem qualquer hipótese de ganhar à "rapidez".
Decidi o impensável, estar sozinho em palco e convocar os fantasmas de um país que amamos e, com igual paixão e zelo, tantas vezes desprezamos ou menorizamos. No próximo dia 15 de março estarei na Casa da Música, uma sala com mais de 1000 lugares e convidei algumas pessoas para estarem comigo.
Entre eles Jorge Nuno Pinto da Costa. Que para minha surpresa aceitou estar e participar.
Houve polémica, recebi mensagens agressivas e outras a dizer que maravilha, ainda por cima sendo eu benfiquista. Volto então ao início, às três palavras de que gosto. São nelas que encontro Jorge Nuno, o presidente do F. C. Porto. Um homem ganhador, um homem para quem a superfície, a rapidez e o ruído não têm segredos. Ah, mas não é esse o homem que estará na Casa da Música, não é esse o que convocarei para uma noite mágica na Casa da Música. O Jorge Nuno que comigo estará é o outro, o que ele sabe ser longe dos holofotes, um homem profundo, silencioso e que adora a lentidão que procura num poema, num livro, numa memória. Será especial e único.