Vestido preto, guitarra portuguesa e azulejos azuis e brancos. É esta a imagem que Madonna escolheu para o cartaz da digressão "Madame X", que inicia hoje um ciclo de oito concertos no Coliseu de Lisboa.
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Os elementos que evocam o fado e as cidades portuguesas já não serão apenas lembranças de uma turista - a cantora viveu em Portugal e assume que os temas do seu 14.º álbum de estúdio, "Madame X", lançado em junho de 2019, refletem já a influência dos sons lusófonos (muitos apresentados a Madonna por Dino D"Santiago, seu "guia musical" em Lisboa). O que tem ficado evidente nos espetáculos da "tour", que teve início a 17 de Setembro passado, em Nova Iorque.
"Sodade" de Cabo Verde
No alinhamento seguido pela norte-americana, que abre com "God control" e "Dark ballet", e vai cruzando a totalidade do novo disco com clássicos como "Express yourself", "Papa don´t preach" ou "Like a prayer", tem havido pelo menos três momentos em que as suas novas referências são expressas: no tema "Batuka", presente em "Madame X", sobe ao palco a Orquestra de Batukadeiras de Cabo Verde (o que encheu de orgulho o primeiro-ministro cabo-verdiano, presente num dos espetáculos); em "Fado pechincha", a cantora é acompanhada pelo jovem prodígio da guitarra portuguesa, Gaspar Varela, bisneto da falecida fadista Celeste Rodrigues, que imortalizou o tema; e em "Sodade" a homenagem dirige-se a outra diva da música lusófona, a cabo-verdiana Cesária Évora. No elenco de músicos que a acompanha, encontram-se ainda os portugueses Jéssica Pina (trompete) e Carlos Mil-Homens (percussão), o angolano Iuri Oliveira (percussão) e o cabo-verdiano Miroca Paris (guitarra).
Busca pela intimidade
A digressão que entra hoje na sua fase europeia, seguindo-se concertos em Inglaterra e França (o último deles será em Paris, a 11 de março), não passou por estádios nem arenas, cingindo-se a salas de menor dimensão, o que não acontecia desde a "The Virgin Tour", de 1985. Mas essa busca pela intimidade não significa menos aparato em cima do palco. Publicações como a "Rolling Stone" ou o "The New York Times", que elogiaram a "ousadia", a "estranheza" e a "versatilidade" da cantora, dão conta de um espetáculo em que participam 41 músicos, bailarinos e cantores. E descrevem elaboradas coreografias, pejadas de simbolismos e onde se utilizam com abundância os vídeos e outros elementos multimédia. Será também de esperar uma série de "recados" sobre a política norte-americana, as questões ambientais e outros temas candentes da atualidade.
Outra característica destes espetáculos é a proibição de telemóveis na sala, tanto para evitar o ruído como para impedir as gravações. Sobre os fãs que resolveram esconder o aparelho e captaram imagens dos concertos, escreveu a cantora no Instagram: "Se não conseguem viver sem o telemóvel durante duas horas, esta experiência não é para vocês."
Apesar de ter cancelado algumas datas nos EUA, devido a uma lesão que lhe provocou "dores indescritíveis", aguarda-se Madonna na sua máxima força, até porque agora vai jogar em casa.