Segunda edição do Mediterrane Film Festival começa neste sábado e termina no final do mês.
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Depois de uma primeira edição quase se diria experimental, Malta volta a celebrar o cinema mediterrânico, com o que agora se parece mais com um festival de cinema. A primeira edição, patrocinada pela Comunidade Europeia, destinou-se apenas a países mediterrânicos europeus, estando completamente de costas voltadas para os países do norte de África também banhados pelo Mar Mediterrânico.
Apesar de tecnicamente apenas ter águas atlânticas nas suas costas, mesmo a algarvia, Portugal é considerado por vezes, em termos geo-políticos, um país mediterrâmico, tendo feito parte das nove nações representadas na primeira edição do festival. O filme português selecionado, “Alma Viva”, realizado pela francesa de origem portuguesa Cristéle Alves Meira, seria mesmo um dos mais premiados do festival.
Resultado de uma visão mais abrangente do Mediterrâneo, a segunda edição do festival, que começa hoje em Malta, terminando no próximo dia 30, não inclui nenhuma produção maioritariamente portuguesa, cabendo as honras da nossa representação à coprodução entre Espanha e Portugal, “O Corno do Centeio”, de Jaione Camborda, já estreado nas nossas salas e vencedor da última edição do Festival de San Sebastian.
Como muitos outros festivais, a programação de Malta, selecionada por uma equipa liderada agora pela experiente Teresa Cavina, inclui, na sua secção competitiva, filmes que passaram por outros grandes festivais, como Veneza, Berlim ou Cannes, como por exemplo “Backstage”, dos marroquinos Afef Ben Mahmoud e Khalil Benkirane, “Histórias de Bondade”, do grego Yorgos Lanthimos, a estrear em Portugal a 4 de julho, “Meeting with Pol Pot”, de Rithy Pahn, também já adquirido para distribuição em Portugal, ou “Hors-Saison”, de Stéphane Brizé, outro fime já garantido para Portugal.
A lista de filmes já exibidos em grandes festivais e que poderão ser vistos ou revistos em Malta continua, por vezes quebrando a “regra” da origem mediterrânica: “Sweet Dreams”, de Ena Sendirajevic, exibido em Locarno, focando-se nos pós-colonialismo europeu mas representando os Países Baixos, “The Damned”, de Roberto Minervini, realizador de origem italiana mas a trabalhar há muito nos Estados Unidos, “The Stranger’s Case”, de Brendt Andersen, produção da Jordânia, “The Substance”, da francesa Coralie Fargeat, “To a Land Unknown”, produção grega do palestiniano Mahdi Fleifel ou “Who Do I Belong To”, da tunisina Meryam Joobeur, a que se juntam ainda filmes daTurquia, Espanha, Itália e Reino Unido.
O festival, que inclui ainda uma secção não competitiva, uma mostra dedicada a filmes produzidos em Malta, um conjunto de filmes com o mar como tema, intitulado Mare Nostrum, uma homenagem a David Bowie e um programa de projetos de realidade virtual intitulado Future Visions, entregará um prémio de honra, uma Abelha de Ouro, em honra de uma das mais famosas produções do país, o mal, ao cineasta britânico Mike Leigh, que dará ainda uma masterclass.
O programa mais ligado à indústria é composto por um conjunto alargado de mesas-redondas, discussões e masterclasses como A Arte da Montagem, com Yorgos Mavropsaridis, montador habitual dos filmes de Yorgos Lanthimos, Harmina entre História e Som, com o compositor Simon Franglen, conhecido pelo seu trabalho com James Cameron, Dnâmicas de coprodução no Mediterrâneo ou Navegando pela próxima fronteira espacial de como contar uma história: VR, AR, MR e computação espacial.
Malta, conhecida pelo seu passado de confluência de culturas e civilizações, que deixaram rasto na ilha, e pelo presente de forte dinâmica turística, tem-se afirmado também, pelas suas condições naturais e pelo generoso regime de isenções fiscal, como um paraíso para muitas super produções internacionais.
Já presente o ano passado no festival, o JN teve ocasião de visitar as grandiosas instalações dos estúdios de cinema de Malta, que no entanto estavam em grande parte fechadas a visitantes visto que Ridley Scott ali se encontrava então a filmar “Gladiador 2”. Um dos locais a visitar pois de novo este ano, como iremos dando conta por aqui.