Estreia esta quinta-feira "Manas", ficção da brasileira Marianna Brennand sobre casos reais passados na selva.
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Quem entrar na sala de cinema para assistir ao filme brasileiro "Manas" já deve saber ao que vai.
O drama, que estreia quinta-feira, aborda a exploração sexual de menores das pequenas comunidades nas margens de um rio na Amazónia, por parte dos tripulantes dos grandes barcos de mercadorias que percorrem a zona. Se o tema é duro, e o filme não o ignora, a realizadora Marianna Brennand tem o cuidado de nos oferecer uma história realista, mas de grande sensibilidade, transcendendo a situação pontual, e grave, que denuncia, fazendo do seu filme uma denúncia da exploração da Mulher em ambientes masculinos tóxicos. Mas, também, sem maniqueísmos que pudessem afastar da história este ou aquele tipo de públicos.
O filme centra-se na história de uma jovem de 13 anos que vive com as irmãs mais novas e os pais numa pequena comunidade das margens do Marajó. Abusada pelo pai, tenta escapar à sua realidade, tombando num esquema de abuso sexual praticamente "institucionalizado"...
Marianne Brennand, documentarista de raiz, conheceu esta realidade há dez anos, mas cedo percebeu que seria muito duro abordar o caso no registo documental, sobretudo no contacto com todas as jovens abusadas com quem foi falando ao longo dos tempos. E arranca uma linha narrativa sólida, fluída, ancorada na realidade geográfica e psicanalítica da região.
Grande parte da força do filme, que nos vai agarrando e não mais nos larga, mesmo após sairmos da sala, tem a ver com a presença magnética e de grande subtileza da jovem Jamilli Correa, apesar de estreante.
"Manas" é uma coprodução com a portuguesa Fado Filmes e com a companhia dos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, desde há muito apaixonados e sensibilizados pelo projeto. E tem ainda apoio da produtora d cineasta brasileiro Walter Salles.