Bruxelas é terra de tudo e de todos. De Magritte, do Tintin, dos eurocratas, da cerveja e de inúmeras pessoas de nacionalidades improváveis que se cruzam mas que nem sempre se misturam.
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Bruxelas é também o leito do "Manifesto do Comunismo", sim, o do Marx.
Poucos sabem que a fonte de inspiração do Comunismo, tal como o conhecemos, foi escrita à janela de um dos edifícios com ar de cenário de história encantada que adornam os quatros cantos da "Grand Place", na nova Paris.
Em 1845, era a Bélgica uma adolescente de 15 anos entre as monarquias europeias, quando Karl Marx, expulso de Paris, procura guarida na cidade imersa no liberalismo. Conta a história que o intelectual alemão não simpatizou com a Bruxelas liberal e moderna da época.
Marx sai do país mas acaba por regressar pouco depois. É em 1847 que com o amigo e compatriota Friedrich Engels congemina o "Manifesto Comunista", a teoria que inspirou multidões através de um curso de acção sobre uma revolução socialista e uma tomada do poder pelos proletários.
Mas a Grand Place serve de albergue e de inspiração a outros ilustres. Poucos anos mais tarde, em 1851, é Victor Hugo que se instala no vértice da praça que serve de topo à torre que se avista de toda a cidade. A "praça mais bonita do mundo", como muitos lhe chamam, não é afinal a praça mais bonita do mundo. Mas é certamente o local mais surpreendente de Bruxelas.
As fachadas do século XVIII de arte barroca reconstruídas pelos mercantilistas depois do bombardeamento francês de 1695, os dourados indispensáveis mas, sobretudo, a imponência resguarda, surpreendem quem quer que serpenteie pela cidade desarmónica e que, incauto, desagúe na praça central. A Grand Place é história e está cheia de histórias. No século XI já acolhia os mercados ao ar livre da áurea Flandres. Hoje, como antes, é um dos locais mais activos de Bruxelas, com turistas, artistas de rua, residentes e visitas que não se cansam de a admirar. E de sorver dela a vontade de regressar.