Autobiografia do poeta e político, que faz 88 anos em maio, chega esta terça-feira às livrarias portuguesas.
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O livro “Memórias minhas”, de Manuel Alegre, vai ser publicado na terça, revisitando o longo percurso de vida do poeta.
Com a chancela das Publicações Dom Quixote, a obra acompanha também o percurso do país desde a década de 1950 até aos nossos dias. O autor de “O canto e as armas” esmiúça também memórias familiares, como o tio-trisavô decapitado na sequência das lutas entre liberais e miguelistas.
“Demasiadas vidas”
Há muito prometida pelo autor, a autobiografia abarca os múltiplos acontecimentos de que foi testemunha ou mesmo protagonista. Como adianta a editora responsável pela publicação, “há demasiadas vidas na vida de Manuel Alegre. Biografia a mais, talvez, para uma só vida. Sempre vivida de forma tensa e intensa”.
Nas páginas de “Memórias minhas”, Alegre escreve sobre os tempos tempos de militância no PCP, partido a que aderiu em 1958, de forma pouco ortodoxa. A rutura aconteceu pouco mais de uma década depois, com a invasão da Checoslováquia pelas tropas soviéticas. Desse período, são recordados os passeios pelas ruas de Paris e as longas conversas com Álvaro Cunhal.
A luta pela liberdade e pela democracia é uma das traves-mestras destas memórias, nas quais se recorda tudo o que fez para provocar uma ação militar contra o regime. A fuga a salto pela fronteira quando não era mais possível escapar à polícia política e o combate através da poesia com os marcantes livros “Praça da canção” (1965) e “O canto e as armas” (1967), “livros que falam de Abril muito antes do 25 de Abril”, como adianta a D. Quixote.
Como livro de afetos que também é, “Memórias minhas” passa em revista de forma pormenorizada a relação próxima e cúmplice que manteve com muitos escritores, mas também com Adriano Correia de Oliveira e António Portugal, que ajudaram a dar forma musical ao poema “Trova do vento que passa”, assumido desde logo como um hino a todos os que se opunham à ditadura de Salazar.
Já no Portugal democrático, Manuel Alegre escreve sobre as conquistas e frustrações desse período, mas não esquece ainda ocorrências de foro mais pessoal, como foram os casos das desavenças com Mário Soares, António Guterres e José Sócrates “e com todos aqueles que pretenderam descaracterizar a essência do partido”, pode ler-se na nota editorial.