Manuel António Pina evocado na Feira do Livro do Porto, cidade onde foi "nascendo"
De 25 de agosto até 10 de setembro, a Feira do Livro do Porto "celebra a força da palavra e o humor em Manuel António Pina". A programação foi apresentada esta segunda-feira, nos Jardins do Palácio de Cristal. O investimento municipal ronda os 650 mil euros.
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Sempre que uma das habituais crónicas de Manuel António Pina falhava no "Jornal de Notícias", recorda Rui Lage, "choviam protestos junto da redação". O jornalista e escritor, que só lhes chamava crónicas porque "não sabia o nome disto", é a figura evocada na próxima edição da Feira do Livro do Porto, que decorre de 25 de agosto até 10 de setembro.
"Para que conste, este cronista não nasceu em sítio nenhum", escreveu em março de 2001, num texto intitulado de "Uma cidade como esta", também recordado esta manhã por Rui Lage, o convidado comissário do programa de homenagem da Feira do Livro.
"Ele próprio a si mesmo se foi nascendo em diversos sítios, uns exteriores e outros interiores. Um deles, simultaneamente exterior e interior, foi o Porto", continuava o texto de Manuel António Pina, que morreu em outubro de 2012 aos 68 anos.
A programação da Feira do Livro foi apresentada esta segunda-feira, nos Jardins do Palácio de Cristal e contou com a presença do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, o convidado comissário do programa de homenagem, Rui Lage, e o programador literário e coordenador da edição deste ano, João Gesta. O investimento municipal ronda os 650 mil euros.
Perante os "muitos Pina" que havia em Pina, "uma das ambições" da programação da Feira do Livro no Porto "é abrir uma janela que nos permita olhar, contemplar, refletir, debater a obra complexa de Manuel António Pina para lá das aparências", observa Rui Lage. O primeiro fim de semana do evento será o "mais intenso", com um maior foco no autor, mas não se esgotará nesses dois dias.
João Gesta salienta a importância da "palavra enquanto potência invencível" do autor, a quem será atribuída uma tília de homenagem numa cerimónia marcada para dia 26 de agosto às 15 horas. Dentro do programa de homenagem, estão previstas quatro conversas. Algumas delas contam com a colaboração de Germano Silva, jornalista e historiador. Haverá ainda um ciclo de cinema.
Da programação, destaca-se ainda a presença de Ricardo Araújo Pereira que, "doze anos depois da publicação de uma crónica sobre as crónicas de Pina, aceitou o desafio de "explicar como o humor e a poesia podem subtrair peso e acrescentar sentido ao quotidiano". Está marcada para o dia 4 de setembro, às 19 horas.
Ao todo, estão previstas mais de 110 atividades, incluindo concertos, sessões de humor e 58 atividades para bebés, infantojuvenis e para famílias. Na Avenida das Tílias, estarão instalados 130 stands, num total de 108 entidades inscritas, entre editoras, livreiros e alfarrabistas.
"Não queremos que seja nem a maior, nem maior do que é"
Para o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, "os stands vão surpreender as pessoas. São muito mais convidativos, mais simpáticos, principalmente para quem tem problemas com a sua mobilidade". "As pessoas vão achar a Feira do Livro mais bonita e mais confortável", considera o autarca.
"Estamos convencidos de que este ano, com esta homenagem a uma pessoa muito especial da cidade do Porto, Manuel António Pina, com um grande conjunto de atividades, a edição vai encher os Jardins do Palácio de Cristal", afiança Moreira, esperando que, no futuro, "quando cá não estiver, não se caia na tentativa de fazer disto uma jornada demasiadamente intensa".
Para o autarca, "é muito importante a fruição da cidade e que isto seja, de alguma maneira, um ambiente imersivo".
"É muito importante este sentimento que temos quando cá vimos: que se pode circular, que se pode ir vendo e convivendo com a natureza enquanto fazemos a nossa procura. A Feira do Livro é também uma busca e uma procura e portanto nós não queremos mesmo que a Feira do Livro cresça. Ou seja, clarifica: "Não queremos que seja nem a maior, nem maior do que é. Não a queremos estender mais no tempo, não queremos exceder aquilo que são as capacidades deste recinto para ser usufruído".