Novo projeto aposta na promoção da identidade sonora da região, com especificidades em cada ilha. Edição de discos e agenciamento integram a missão a desenvolver.
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A insistência de uma simples pergunta fez nascer junto de Luís Banrezes a vontade de criar uma editora especializada em música açoriana. Proprietário da La Bamba, a única loja de discos de Ponta Delgada, o empresário de origem nortenha (ler caixa) habituou-se, ao longo dos anos, a ver turistas interessados na compra de discos representativos dos Açores.
Ao ver que os registos fonográficos se limitavam a cobrir artistas consagrados como Zeca Medeiros, abalançou-se na criação da Marca Pistola. Um projeto vasto que quer aliar a edição física (em vinil e cassete) de artistas locais, emergentes e não só, com uma plataforma online que registe os nomes dos intérpretes de origem açoriana, tanto do presente como do passado.
"Mais do que uma editora, este é um trabalho em progresso. Passa pelo mapeamento do que se faz musicalmente na região, mas também pela proteção do espólio, procurando resgatar o que ficou perdido no passado", adianta o criador do projeto.
De maio até ao presente, Banrezes e a pequena estrutura que o acompanha têm-se desdobrado em esforços, que passam pela inventariação de projetos musicais de tempos idos e o estudo do impacto da emigração para os Estados Unidos e Canadá nos hábitos musicais e culturais dos açorianos.
A análise detalhada tem dado origem a conclusões, no mínimo, curiosas, como a identidade musical própria que cada ilha acaba por ter, bem evidente na popularidade que géneros específicos (o heavy metal em São Miguel ou o punk na Terceira, por exemplo) tinham nas populações.
"É por isso que a música desta região ainda soa diferente nos nossos dias, seja pela métrica ou pelas letras", enfatiza.
Do levantamento feito já resultou a identificação de 22 bandas, mas o número deverá aumentar assim que a área de análise cobrir as restantes ilhas do arquipélago além de São Miguel.
museu é o maior objetivo
Pela "enorme ambição" envolvida, Banrezes assume que a Marca Pistola é um projeto a longo prazo. "Talvez a 10 ou 15 anos", considera, assumindo que o objetivo maior" é a criação de um futuro Museu da Música Açoriana.
Bem mais imediata é a edição de discos. P. S. Lucas será o primeiro. O lançamento vai acontecer ainda este mês, seguindo-se até ao final do ano mais quatro ou cinco. No próximo ano, o número deverá duplicar.
De mãos dadas com a edição está o agenciamento de artistas, que irá procurar combater o desconhecimento sobre músicos açorianos existente no continente. Diretor do festival Tremor, Luís Banrezes diz não compreender as razões pelas quais os promotores de festivais não convidam com mais frequência artistas oriundos da região, dado "o talento que existe".