Poder feminino nacional em foco no segundo dia do Meo Marés Vivas. Da Weasel deram concerto apoteótico na primeira noite do festival que termina amanhã. Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco comoveram a plateia e Cláudia Pascoal, com energia contagiante, chamou ao palco o lendário Marante.
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Slow J diz que é preciso reformular o conceito de música portuguesa que não se pode esgotar no fado. No seu concerto da primeira noite do Meo Marés Vivas, em Gaia, deu prova da teoria, com um menu repleto de rap, morabeza e muita dança, e um elenco de seis músicos em palco (João Caetano na percussão; Rui Poço, na guitarra portuguesa; Hugo Lobo, nas teclas; Djodje Almeida, nas guitarras e Diogo Pereira, no baixo e o próprio Slow J) irrequietos e ataviados de branco.
Sempre a servir sorrisos e a fazer corações com mãos, entregou música e da boa. “Imagina” foi um dos temas mais celebrados pelo muito público – o recinto do antigo Parque de Campismo da Madalena parece rebentar, com 40 mil pessoas – e “Cristalina” só com órgão e voz, levou público ao rubro.
Mas, a apoteose estava por chegar com 40 mil fiéis a congregarem a sua devoção pelos Da Weasel na primeira madrugada do Marés. Duas horas e 30 temas para a história. E 80 mil braços no ar a prestar homenagem ao hip hop feérico dos irmãos de Almada. Se “a doninha” promete “acabar com o stock nacional de viagra” com a sua amada, o segundo dia teve uma temática bastante mais atormentada.
Panteras de saia rosa
Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco deram o segundo e último concerto da dupla, “pelo menos para já”, e serviram a quente dezenas de êxitos.
Como panteras de saias rosa, contaram como se apaixonaram, como criaram as ilusões do que seria um amor para a vida toda, e do fim tormentoso das relações. Como o desamor em que perguntam “encontraste alguém melhor do que eu?”. Ou as amizades que nunca perduram, ficando apenas a falsidade de uma relação hipocritamente saudável: “Falas bem de mim a toda a gente e eu devia fazer o mesmo”. O tempo investido, perdido, a dor, a raiva e a superação que, como mulheres, conseguem ter – o espetáculo foi uma lição.
A temática tem milhares de seguidores de todas as gerações, que cantam as canções em uníssono, do princípio ao fim, provando, como escrevem nos cartazes os fãs, que elas as duas são as “number one”.
“Despedida de solteira”, “Avião de papel”, “Chamada não atendida”, “Não me importo”, “Adeus amor adeus”ou “Antes dela dizer que sim” – tudo o povo cantou em coro, linha a linha.
Ainda antes da próspera dupla subir ao palco, atuou outra portento da música nacional: Cláudia Pascoal.
Vestida entre Barbie e Harley Quinn, de rosa elétrico e verde fluorescente, serviu um repertório em que mistura habilmente a etnomusicologia nacional com nova roupagem pop. “Fado chiclete” e “Nasci Maria” provam que Pascoal tem uma capacidade de comunicação com o público muito genuína, como quando acontece um problema com o seu som e ela improvisa, a gargalhar: “Vamos ultrapassar o momento cringe”.
Marante a gingar aos 75 anos
Nos seus convidados trouxe o mais especial de todos, Marante, todo gingão, viu o público do Marés cantar-lhe os parabéns pelos 75 anos.
E o icónico cantor, comovido, entoou um clássico lendário: “A bela portuguesa”, transmutando o recinto num bonito baile de verão, com pares formados logo ali de improviso, todos a radiar e a sorrir.
Cláudia Pascoal emocionou-se quando dedicou a música à sua mãe e disse nunca esperar estar a tocar para tanta gente.
Também ao início da tarde, o poder feminino da nova geração mostrou estar de muito boa saúde, com o projeto Lua e com uma guitarrista Catarina Vital que dedilhando quatro guitarras distintas mostrou uma destreza e uma capacidade artística fora de normal.
Ao início da noite tocou também no recinto a Orquestra Bamba Social, com alegria e ginga a rodos. Isto ainda antes de entrar o romântico Pablo Alborán e o reggaeton incendiário do colombiano J Balvin, capaz de sacudir qualquer amargura de amor. O Marés fecha este domingo com as estrelas Black Eyed Peas.