A 16ª edição do Meo Marés Vivas fechou as portas esta madrugada no antigo Parque de Campismo da Madalena, em Vila Nova de Gaia. O número de visitantes superou os 100 mil durante os três dias. O próximo ano já está assegurado: é de 18 a 20 de julho.
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"Hoje é dia da caça, amanhã do caçador", canta a Orquestra Bamba Social que deu astronómicos concertos no festival, contagiando o público com uma boa energia e uma leveza no corpo como nenhuns outros, com destaque para a presença de músicos convidados como o baixista João Paulo Rosado. Esta madrugada, foram a fechar o recinto, tendo sido também responsáveis pelo ocaso de um dia de verão, mais bonito por causa deles.
Alheios a todo este frenesim, estavam os fãs de Louis Tomlinson, o ex-One Direction de 32 anos. Muitos deles esperaram 24 horas para o ver e fizeram centenas de quilómetros para chegar a Gaia com t-shirts e roupas a combinar, para as quais tinham gurdado as mesadas. Ora, a partir daqui começa o problema...
Mas, é preciso recuar um pouco na história para perceber que Tomlinson foi concorrente do formato televisivo "X Factor" e que foi eliminado como cantor a solo, para depois se juntar a uma boys band que acabou por se tornar numa das mais lucrativas da história: One Direction.
Seria injusto dizer às centenas de fãs que gritaram e apoiaram como ninguém o seu ídolo - que desafinou várias vezes e que as músicas mais aplaudidas até foram as que eram dos 1D, como "Drag me down" -, porque para eles este concerto foi o "melhor de sempre".
Mas convenhamos que Tomlinson não é Harry Styles, e os pais que os foram lá levar ou qualquer um que não esteja sob o efeito dos óculos do amor consegue perceber. Mas os seus fãs são os melhores do Mundo e, nesse sentido, este foi um dos melhores concertos da noite, porque ninguém teve um público tão devoto.
Para os pais dos fãs de Tomlinson, o Marés Vivas trouxe os escoceses Snow Patrol, que já não vinham a Portugal desde 2019. A banda criada em 1994 tem uma legião de fãs maduros, sobretudo porque venderam mais de sete milhões de álbuns em todo o mundo.
O vocalista Gary Lightbody exibe uma simpatia desarmante, brinca com as notas agudas da sua voz, que diz estarem "demasiado altas", mas não desafina uma, sublinhando que as canções são "tão velhas quanto nós", mas mesmo assim testou várias canções do novo disco, que sairá em setembro, com bastante êxito.
Não tanto como "Run" ou "Chasing cars", canção de 2006 que teve o estranho efeito de pôr lágrimas a escorrer no coração de pessoas adultas.
No encore, os Snow Patrol trouxeram "What if this is all the Love you ever get", com as lanternas de todo os telemóveis acesas, e o recinto todo a cantar em coro "What if it hurts like hell, then it'll hurt like hell". No final, prometeram voltar em breve e desejaram muito amor ao público, e assim estava encerrado até para o ano o palco principal do Marés Vivas.
Palco Moche ainda estava para continuar
Já a lua cheia estava bem alta, 1.15 horas da madrugada, quando Mundo Segundo subiu ao palco Moche perante uma plateia que abria a boca dado o avançado da hora. Nesse mesmo palco tinha tocado Jura - um concerto morninho onde mais uma vez tornou a haver problemas de som.
Mundo Segundo, um dos rappers mais respeitados e influentes da cena hip-hop em Portugal, nascido em Vila Nova de Gaia, com uma carreira iniciada na década de 1990, tem sido uma figura central no desenvolvimento e popularização do rap português.
Além do seu trabalho com os Dealema, Mundo Segundo lançou uma série de projetos a solo que destacam a sua habilidade lírica e o talento como produtor. Os seus álbuns a solo, "Mundo Segundo" e "Sempre grato," mostram a sua evolução como artista e a capacidade de abordar uma ampla gama de temáticas, desde questões sociais e políticas até reflexões pessoais e filosóficas. As letras são conhecidas pela sua profundidade e reflexão, abordando temas como a desigualdade social, a corrupção, a vida nas ruas e a luta pela justiça.
Numa abordagem honesta e direta, combinada com a habilidade de contar histórias, faz com que as suas músicas sejam tanto inspiradoras quanto provocadoras: "Estamos aqui, não me arrependo de nada do que vivi, eu vi como a cultura evoluiu e depois ruiu" e, como explicou, viu desde 1993. Para cantar com ele, trouxe Bezegol.
E daqui pode sair com o seu "ego inchado como um abcesso", porque foi muito bom. O problema foi mesmo a hora avançadíssima para um domingo onde como, cantavam os brasileiros, "camarão que dorme, a onda leva" e quem trabalha esta segunda-feira será levado pela maré.