Poveira de gema, como gosta de se definir, a educação em Inglaterra e nos Estados Unidos não a fez esquecer-se de casa. Regressada a Portugal, Maria de Sá conquistou o fechado mercado português e hoje soma duas séries na RTP, uma como protagonista e outra como coautora.
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Com o currículo dividido entre a Póvoa e o Mundo, sem ter medo de deitar mãos à obra em trabalhos que não sejam de atriz, é uma das mais jovens proeminentes caras da representação portuguesa além-fronteiras.
Começou na dança. Como apareceu a representação?
Cresci no ballet clássico e foi por aí que comecei a gostar das artes. Onde vivia, na Póvoa de Varzim, apesar de haver música e dança, não tinha acesso a teatro. E apesar de nunca ter consumido muito teatro em pequena, fazia todas as perguntas sobre como funcionava a televisão. Sempre tive esse bichinho. Falaram-me de um colégio interno de artes em Londres, fiz a audição, entrei e foi o meu primeiro contacto com a representação, logo em inglês. Ao concluir aí o secundário fiz audições para licenciatura em Inglaterra ou nos Estados Unidos e acabei por ir para à New York Film Academy. Aí percebi que tinha encontrado o que procurava.
Quando volta a Portugal?
Voltei a meio do processo de renovação do visto, que é complexo. Estava na dúvida sobre regressar a Londres ou não, mas aconselharam-me a ter trabalho na minha língua materna e decidi então vir para Portugal. Encontrei um mercado muito diferente daquele em que me formei.
Diferente como?
O trabalho em si é semelhante em todo o lado, a quantidade de castings e as redes de trabalho é que funcionam de forma diferente. Não me formei cá e nunca tinha estado em Lisboa, por isso não conhecia ninguém. O que me apercebi é que em Portugal toda a gente acaba por se conhecer, nos eventos isso é bastante visível. Algo que não sucede nos Estados Unidos ou em Inglaterra, pela dimensão do mercado. Acabei por me sentir deslocada e sem contactos.
Como se contorna isso?
A minha estratégia foi começar a fazer castings para filmes americanos produzidos cá. Foi uma porta que, se calhar, para o mesmo papel, nos Estados Unidos seríamos centenas a concorrer, e aqui tenho a mais-valia de chamar à atenção por ser uma portuguesa que fala inglês com sotaque americano. Outra estratégia foi aproveitar a polivalência da minha formação. No curso, aprendi sobre todos os passos para se fazer um filme e aqui acabei por desempenhar cargos como anotadora ou assistente de produção. Isso permitiu-me entrar na rede portuguesa.
Como avançou para as séries da RTP “Desassossego” e “Prisma”?
Através de um workshop que fiz para, exatamente, alargar a minha rede em Portugal, criei um grupo de pessoas que ficaram próximas de mim e começámos a pensar que tínhamos os mesmos interesses e que faltavam oportunidades, por isso decidimos criá-las. Começamos a desenvolver uma ideia, um projeto, que começou por ser uma curta, evoluiu para série, “Prisma”, e, um par de anos depois, está na RTP Play.
Acabou de rodar na Hungria “Ever after”, a primeira longa como protagonista. O terror foi uma escolha ou um acaso?
É um misto, mas eu acho que é um género interessante por duas razões: porque é de nicho e quem gosta, gosta, independentemente de ser uma pequena ou grande produção; e, por outro lado, como ator exploras muitos lados. Pode ser terror com comédia, super dramático, pode ser tanta coisa numa só. Leva-te a sítios muito intensos e é uma escola importante: tens de ter muitas valências num só trabalho.
Voltar para os EUA é uma possibilidade?
Para ir para os Estados Unidos tem que ser para me mudar para lá de novo. Pode ser no próximo ano, daqui a dez ou nunca. Nesta profissão não conseguimos planear tanto quanto gostava. Felizmente fiquei com muitas amigas lá e é sempre possível voltar aos EUA por uma temporada para um ou outro trabalho. O facto de ter tido um ensino internacional habilita-me a aceitar trabalhos em vários pontos do Mundo. Outra vantagem do ensino é o gosto que ganhei pela escrita. Atualmente estou a cozinhar um projeto com uma amiga nos EUA e dentro de uns anos pode ser que tenha de lá ir para que ganhe forma.v