Festival Internacional de Marionetas 2024 vai estrear 18 espetáculos no Porto e em Matosinhos. São dez dias consecutivos, de 11 a 20 de outubro.
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“Existir. Resistir! Desistir…” – é a partir destas ideias, isoladas ou misturadas, que se constrói a programação do 35.0 Festival Internacional de Marionetas do Porto. Entre 11 e 20 de outubro, o FIMP trará a 12 lugares do Porto e Matosinhos 18 espetáculos de oito países, incluindo várias estreias nacionais e absolutas, além de exposições, oficinas, masterclasses e atividades para as famílias.
De onde vem o mote para esta edição? “Quase todos os espetáculos foram criados durante a pandemia, ou logo a seguir”, explica Igor Gandra, diretor do festival.
“Quisemos explorar as diferentes possibilidades destas atitudes, tanto no plano individual como coletivo, seja enquanto sociedade ou espécie. A existência remete para a diversidade de modos de existir e também para a coexistência. Resistir pode referir-se à forma de lidar com eventos excecionais, mas também com as injustiças sociais ou a repressão. E a desistência, associada geralmente ao falhanço, pode significar a possibilidade de iniciar outro caminho”, explica o diretor do FIMP ao JN.
Os espetáculos que melhor traduzem estes três vértices, na opinião de Igor Gandra, são “Géologie d’une fable”, da companhia libanesa Collectif Kahraba, que faz a abertura do FIMP, no dia 11, no Teatro Carlos Alberto, no Porto. É um convite a questionarmos a nossa relação com o território (o que por estes dias parece particularmente urgente em Portugal) e com os animais, através de uma matéria tão primordial como o barro.
A bizarria de 18 mães
“Sorry, boys”, da italiana Marta Cuscunà, que passa no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, dia 18, é também destacado pelo diretor.
A obra é inspirada por uma notícia publicada nos EUA sobre um acontecimento real em Gloucester, no Massachusetts: um grupo de 18 mulheres jovens resolveram engravidar em simultâneo e criar os filhos em conjunto, sem a participação dos pais. A peça colocará em diálogo 12 cabeças decepadas...
Igor Gandra chama ainda a atenção para a peça de encerramento: “In many hands”, da neozelandesa Kate Mcintosh, que sobe ao palco do Teatro Campo Alegre, no Porto, dias 19 e 20. “É uma performance participativa que celebra as capacidades sensoriais e é uma síntese das ideias do programa”, diz o diretor.
Em locais como o Rivoli, Teatro de Belomonte, Mosteiro de São Bento da Vitória, Círculo Católico de Operários do Porto, Metro da Trindade ou Casa da Arquitetura (Matosinhos), poderá também ser visto “Aruna e a arte de bordar inícios”, da espanhola Ainhoa Vidal, que reflete sobre as hipóteses de recomeçar após uma catástrofe.
Entre muitos outros espetáculos, destaca-se a releitura do mito de “Prometeu” pela Companhia Lafontana Formas Animadas; a criação conjunta do Teatro de Ferro e da Sonoscopia, “Capital canibal”, “uma máquina de cena anacrónica em permanente curto-circuito”; e uma peça inspirada na obra-prima de Italo Calvino, “Senhor Palomar”, pelos franceses Pensée Visible.
Deve atentar-se, por fim, em “Inacabados”, da Companhia Radar 360º, que tem como referência espetáculos de feira do século XIX, reconhecidos pelo caráter satírico e absurdo, que “exploravam o erro e a falha como metáfora da frágil existência humana”.