Mariza celebra 20 anos de percurso com homenagem a Amália Rodrigues.
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O fado entrou na sua vida ainda criança. Ouvia-o nos discos que punham em casa a tocar e na taberna dos pais, no típico bairro da Mouraria, em Lisboa. Mas o seu Mundo musical é "vasto" e uma viagem "muito grande que começa numa mãe africana e acaba num pai português". Mariza, a fadista que nunca se considera como tal, celebra 20 anos de percurso com um novo disco no qual canta exclusivamente temas de Amália Rodrigues. É o seu tributo àquela que foi, no seu caminho, "uma espécie de professora". O álbum "Mariza canta Amália", que é lançado esta sexta-feira, tem arranjos e direção de orquestra de Jaques Morelenbaum.
O que a levou a só agora editar um trabalho onde canta exclusivamente temas de Amália?
Na verdade, a ideia resulta de um conjunto de circunstâncias. Estou a celebrar os meus 20 anos de percurso, que coincidem com os 20 anos da morte de Amália e com o centenário do seu nascimento.
Este é então uma espécie de tributo?
Sim. É uma homenagem a uma das vozes que nos deu tanto. E que a mim, em particular, foi também uma espécie de professora.
O que quer dizer com isso?
Na realidade, só conheci Amália já muito tarde, tinha eu uns 16 anos. Foi nessa altura que percebi, de facto, a sua importância.
Qual foi o maior desafio desta sua escolha?
Decidi que estava na altura de poder usufruir, de alguma forma, dos temas maravilhosos e do legado fantástico que Amália nos deixou. Claro que selecionar dez temas desse imenso legado não foi fácil.
Neste trabalho, canta acompanhada por uma orquestra. Receou que o formato tradicional suscitasse comparações?
Não, até porque a minha ideia inicial não era a de fazer disco com orquestra. Claro que hoje consigo perceber porque se fazem as comparações. As pessoas tentam comparar aquilo que de melhor conhecem e agradeço muito. O interessante para mim neste projeto é perceber que somos pessoas completamente diferentes. Amália é do século XX e eu já estou no século XXI. As minhas emoções a cantar são completamente diferentes.
E como surge a ideia de convidar Jacques Morelenbaum?
Eu já tinha trabalhado com o maestro em 2015. Foi o produtor do meu disco "Transparente". Quando comecei a ouvir, mais atentamente, as composições que o Alain Oulman fez para Amália, percebi que são de uma tal beleza e de um tal classicismo, que vão muito para além do fado. Lembrei-me então de pedir ajuda ao Jacques Morelenbaum.
Neste álbum volta a gravar "Barco negro". O que a levou a esta revisitação?
A seleção dos temas foi difícil. Acabei por escolher aqueles que tinham mais a ver comigo nesta fase, os que me tocavam mais. Ao ouvir agora "Barco negro" no meu primeiro disco, percebo que havia ali uma inocência tão grande que, passados 20 anos, entendi que deveria voltar a gravar. Tenho outra forma de cantar e outra forma de sentir, tanto musical como de interpretação.
A Mariza tem abordado vários géneros musicais. Em qual deles se sente mais à vontade a cantar?
Para mim, a música é o que exprime a alma. O meu mundo musical reflete muito aquilo que sou como pessoa e as minhas vivências. Todas as músicas que canto e letras que interpreto são de certa forma pessoais. Senão, não as cantava. Não me considero fadista . Nunca o considerei. Mas tenho um mundo musical muito vasto que começa numa mãe africana e acaba num pai português. É uma viagem muito grande.