
Martinho ao JN: "Um espetáculo é algo interativo, é uma troca de energia, nunca é um espetáculo meu, é meu e do público".
Foto: Leo Aversa
Músico brasileiro leva a festa do samba ao Porto, Coimbra e Lisboa na próxima semana. "Gosto de tudo em Portugal", confessa Martinho da Vila ao JN.
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"Canta, canta, minha gente", desafiava Martinho da Vila, no já longínquo ano de 1992 - e o público cantou. Cantou então e continua a cantar décadas depois, num coro contínuo com o músico brasileiro, agora de 87 anos. "Deixa a tristeza pra lá, canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar", diz a letra de um dos seus maiores êxitos, que tem lugar cativo nos concertos que trazem o artista de volta a Portugal.
Martinho da Vila é um dos nomes maiores do samba e da Música Popular Brasileira, é essa também a sua definição: alegria, vida, esperança, dança. O cantor reencontra-se com o público português esta semana, quinta-feira no Coliseu do Porto, sábado no Coliseu de Lisboa, e domingo em Coimbra, no Convento São Francisco. E promete festa. "Tenho energia porque o palco, para mim, é o meu melhor lugar. Porque exerço o meu ofício, consigo que as pessoas cantem comigo; nunca é um espetáculo meu, é meu e do público", diz Martinho ao JN. E completa: "Um espetáculo é algo interativo, é uma troca de energia, é muito bom".
Para o lendário músico, o palco é "mágico": "Se o artista estiver meio indisposto, quando ele sobe lá, ele cura tudo. Tudo passa, não é? Fica eletrizado. Se tiver uma dorzinha de dente ou de cabeça, passa lá. Pode é voltar pior no final", admite, entre risos.
"Não pensava em ser cantor"
Com mais de 50 anos de carreira, Martinho leva-nos ao início, quando tudo começou, meio por acaso. "Eu não pensava em ser cantor. O meu sonho antigo era... ser compositor, fazia umas musiquinhas, era isso o meu sonho. Mas calhou cantar num festival, em 1967, e depois saiu a "A casa de bamba", que virou um grande sucesso até hoje - e que vou cantar em Portugal. E foi assim que tudo aconteceu".
Para o músico, a sua longevidade, e do samba em geral, é fácil de entender: "O Brasil é muito rico musicalmente, e essa música, essa energia, ela espalha-se". Das sonoridades portuguesas, Martinho aprecia "o fado, de que gosto muito, e a vossa música tradicional", elegendo um artista favorito, com quem até já cantou: "É o Luís Represas, gosto muito dele".
Até as crianças ouvem
"Portugal é uma casa" para Martinho da Vila, que diz querer sempre voltar, mesmo sem espetáculos, a cada ocasião que pode. "Fico sempre feliz de voltar. Gosto de tudo, gosto do clima, da comida, da música, do público. E gosto de conhecer", adianta, explicando que ama Lisboa e também o Porto, "uma cidade muito bonita, as pessoas são ótimas".
Sobre o seu público, o artista revela uma curiosidade: o facto de as novas gerações, e até as crianças, gostarem da sua música. "Não sei porquê, não faço música para a infância, mas acontece", e avança com uma explicação: "É a alegria, só pode ser por causa da alegria".
