Caso real de cyberbullying com desfecho perturbador chegou à Netflix num documentário de duas horas com testemunhos surpreendentes.
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Não é só mais uma história de adolescentes. A leveza juvenil está lá, logo no início, mas é rapidamente esmagada pela náusea de um crime que, não matando em segundos, vai matando aos poucos. Lentamente. A alegria, a descontração, a vontade de viver. O caso real da jovem americana Lauryn Licari, que viveu um inferno, durante mais de um ano, vítima de cyberbullying, chegou no fim de agosto à Netflix, no documentário "Número desconhecido: catfish no liceu", com um desfecho capaz de deixar qualquer um estarrecido, colado ao sofá.
Lauryn tinha apenas 13 anos quando recebeu, num chat onde também estava o namorado, Owen, a primeira mensagem, de um número desconhecido, a dizer que a relação de ambos ia terminar. Faltava pouco para uma festa de Halloween que mobilizava quase toda a pequena Beal City, no interior de Michigan, nos EUA. Na pequena comunidade, com apenas um semáforo e dois bares, todos se conheciam - achavam eles - e as mensagens foram encaradas com estranheza. Seguiram-se 11 meses de silêncio até o casal voltar a ser importunado, desta vez de forma insistente e agressiva. Chegaram a receber 50 mensagens por dia, num tom de ódio destinado sobretudo a Lauryn. "O Owen vai acabar contigo. É óbvio que me quer a mim. Ele ri-se, sorri, toca-me no cabelo", enviaram-lhes. "És a pessoa mais feia que já vi. Vais ficar sozinha, sua feiosa". "Chungosa de m****, não uses leggings, ninguém quer ver o teu rabo anorético". "Mata-te já, cabra". Frases tão curtas mas tão avassaladoras que destruíram complemente a confiança da jovem nos amigos, no namorado, na escola e, sobretudo, em si mesma.
Ao longo de duas horas, o documentário reúne testemunhos do casal, dos pais, de amigos - que também sofreram com os olhares incriminatórios e os interrogatórios policiais - e dos próprios investigadores. Perturbadora, a descoberta final cai como uma bomba, a recordar-nos que o perigo pode mesmo estar em quem mais amamos.