Desenhador de "Lucky Luke muda de sela" esteve no Amadora BD 2021 e falou ao JN.
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Nascido Markus Witzel em 1976 em Berlim, na antiga Alemanha Democrática, no mundo da BD é conhecido por Mawil, tendo ganho relevo depois de escrever e desenhar "Lucky Luke muda de sela", editado em Portugal por A Seita.
Trata-se de mais uma das versões de autor que homenageiam "o cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra" lançadas a propósito dos 75 anos da criação de Morris e inauguradas com "O homem que matou Lucky Luke" de Matthieu Bonhomme, também publicada em português pela mesma editora, que agora lançou "Jolly Jumper já não responde" no Amadora BD.
Convidado do festival, onde as suas pranchas integraram a mostra "75 anos de Lucky Luke: Herdeiros de Morris", Mawil falou ao "Jornal de Notícias" sobre a sua relação com Lucky Luke e a génese deste álbum.
Natural da Alemanha de Leste, "em criança não tinha contacto com muita banda desenhada ocidental, mas alguns amigos trouxeram-me clandestinamente alguns 'Lucky Luke' clássicos e gostei muito do humor de Goscinny e do desenho de Morris", lembra o autor. "Comparados com outras bandas desenhadas ocidentais, como Donald Duck ou Mickey Mouse, estas eram mais elaboradas; eram livros que se podiam ler e reler e descobrir sempre novos detalhes." Ficou tão impressionado que "chegou a copiar inteiramente um dos Lucky Luke de Morris", lembra com um sorriso.
Agora, Mawil teve a oportunidade de desenhar um verdadeiro álbum. Vinca que o seu país "não é um grande mercado de banda desenhada, mas como Lucky Luke é popular, acharam que poderia ser uma boa promoção ter um álbum desenhado por um autor local". Depois das primeiras homenagens francesas, assinadas por Matthieu Bonhomme e Guillaume Bouzard, "começaram a pensar quem poderia desenhar uma história engraçada, com espírito de aventura, num estilo próximo do franco-belga e... escolheram-me a mim!", remata com uma gargalhada.
A sua ideia inicial passava por "escrever uma história sobre os emigrantes alemães que foram para os Estados Unidos, tal como como aconteceu com muitos outros europeus. Na época havia alguma polémica devido aos refugiados sírios acolhidos na Alemanha e pareceu-me uma boa ideia mostrar que a determinado momento os alemães tinham sido pobres e passado por problemas semelhantes, mas o tema era demasiado sério".
Tinha o desejo de "fazer algo diferente e como gosto muito de andar de bicicleta pensei nessa hipótese". Por isso, neste álbum, Lucky Luke abandona o fiel cavalo Jolly Jumper para atravessar os Estados Unidos numa bicicleta. Mawil justifica que geralmente nas suas histórias "os protagonistas são perdedores e Lucky Luke é um herói. Queria colocá-lo numa situação que ele não dominasse, em que não se sentisse à vontade, em que tivesse de aprender algo novo, como andar de bicicleta, que de início foi algo que lhe custou bastante, embora no final acabe por ser bem-sucedido".
À partida, "sabia que não podia desenhar como o Morris". Apesar de "gostar muito do seu estilo, da forma como desenhava as calças e as pernas tão magras, sabia que não poderia fazer um álbum assim. Teria de o desenhar no meu próprio estilo".
No que respeita ao argumento, também surgiram muitas dúvidas e hesitações: "Tinha de fazer uma boa combinação de humor com uma boa aventura e algum suspense". No final, após "seis meses a escrever e seis meses a desenhar", o livro ficou pronto "na data estabelecida". E acrescenta: "Foi o lado bom de trabalhar com uma grande editora. São muito rigorosos, os prazos têm de ser cumpridos. Não me pude atrasar". Mawil revela que "pediram para fazer poucas alterações ao que eu tinha escrito e desenhado" e exemplifica: "Na cena no bar, em que os cowboys gozam com Lucky Luke, pediram para aligeirar a linguagem, porque é um livro que também é para ser lido em família, por pais, crianças e adolescentes."
Apesar de satisfeito com as críticas que tem recebido, rejeita repetir a experiência, pois "apesar de ter sido muito interessante, para mim é muito complicado trabalhar com uma personagem que não me pertence". A título de exemplo, refere que quis "imprimir alguns cartazes e autocolantes promocionais e tinha sempre de enviar tudo aos editores alemão e francês para ser autorizado". E conclui: "É uma indústria muito grande e eu sou apenas uma pequena peça da engrenagem. Quando quero publicar os meus livros, só tenho de falar com o responsável da editora, cumprimentámo-nos e fica tudo resolvido".